Uma viagem através da memória
A Viagem de meu Pai relata a velhice de Claude Lherminier (Jean Rochefort, O artista e sua modelo, 2012), industrial aposentado de 82 anos que sofre com a perda de memória e não consegue viver sem a ajuda de enfermeiras, mas mesmo assim insiste em morar sozinho, afugentando todos que tentam ajudá-lo. Carole (Sandrine Kiberlain, Violette, 2013), a filha mais velha e presente em sua vida não quer colocá-lo num asilo, mas preocupa-se com ele. Mesmo sabendo de sua predileção por sua filha caçula que não o vê há quase dez anos.
Com idas e vindas no tempo significativas em todos os momentos que aparece, o diretor mostra o cotidiano não apenas de quem sofre do mal de Alzheimer como também os conflitos familiares que surgem. O personagem senil Claude diverte em momentos como aquele em que finge cair ou que no que roubaram seu relógio.
Ao mesmo tempo em que nos comove ao questionar sobre a visita de sua filha Alice - que mora em Miami e nunca o visita - mas que está sempre presente sua predileção por ela. Os flahsbacks de infância misturados com a atualidade mesclam momentos traumáticos e emotivos.
Os espaçados lapsos de memória tornam-se frequentes e dão saltos interessantes na história, colocando o público no ponto de vista do protagonista ao tentar entender o lugar, a época e o que está se passando, sempre alternando momentos comoventes e hilariantes como no momento em que Claude cisma que não quer seu melhor amigo enterrado no mesmo cemitério que ele e tenta impedir o sepultamento.
Com leveza e sem pretensão, o filme mostra situações muito sérias e complexas através de seu protagonista e leva a uma reflexão delicada sobre os problemas enfrentados pelas famílias atingidas pela doença.
Há uma realidade retratada em determinadas situações envolvidas como a inversão de papéis onde a filha tem de cuidar do pai e momentos tenros como a amizade fiel entre avô e neto.
A Viagem de meu Pai que entrecorta cenas ao longo da trama e revela situações divertidíssimas no avião e deixa na dúvida se realmente houve uma viagem ou se tudo não passou de uma peça pregada na imaginação ocasionada pela perda da memória de Claude. Apesar de tratar de uma doença triste e que muitos temem, saímos da sessão com uma sensação de leveza.