Verdadeiramente Loucas
O cinema é uma arte que consegue se misturar facilmente com a realidade. Ainda assim, são poucos os filmes que conseguem essa façanha de captar um momento verdadeiro. Loucas de Alegria consegue captar essa essência de veracidade em histórias que outras mídias nunca conseguiriam contar, tudo isso junto ao sabor único italiano.
Beatrice M. Valdirana (Valeria Bruni Tedeschi) é uma mulher rica que sofre de bipolaridade, Donatella Morelli (Micaela Ramazzotti) é uma moça tímida que sofre de depressão. Ambas se encontram internadas em um hospital psiquiátrico e mesmo sendo muito diferentes, aos poucos vão criando uma grande amizade, partindo numa jornada em busca da felicidade.
Logo no início percebe-se algo de especial com o filme, que escolhe abordar o tema com bom humor diferente dos filmes do gênero, que preferem dissecar a razão por trás da loucura em vez de procurar o significado. O diretor Paolo Virzi (Capital Humano, 2013) que também assina o roteiro, sabe que tom quer dar ao longa-metragem, focando a narrativa nas protagonistas, cria uma empatia instantânea pelas duas.
Micaela Ramazzotti (A Primeira Coisa Bela, 2010), trás um peso especial para a sua Donatella, conseguindo entregar o difícil arco da personagem sem melodramas, sabendo dosar os momentos de conflito da personagem. Tedeschi faz uma personagem muito diferente da sua parceira, uma personagem que “fala pelos cotovelos”. Sempre ansiosa com futuro, alguns a classificariam como chata, mas a atriz consegue mostrar as camadas que envolvem sua Beatrice, toda sua tristeza de sentir-se isolada do mundo, tentando desesperadamente uma conexão. Basta um olhar e você logo se convence que essas personagens são reais.
A roteirista estreante Francesca Archibugi prova toda sua sensibilidade num filme rico de realidade, sem precisar apelar para violência ou outras coisas gráficas - como em Thelma & Louise (Ridley Scott, 1991). Ela procura outras formas de criar laços com as personagens, desenvolvendo o significado da loucura que aflige as protagonistas. Isso facilita muito para que o público identifique-se com as personagens, pois dá maior verossimilhança.
Acompanhar essas duas personagens é fascinante, exige muito do seu emocional, mesmo assim vale à pena embarcar nesse mundo de loucura e amores. Uma dramédia cheia de vida, um show de atuação e carinho aos detalhes. É revigorante ver um filme tão verdadeiro consigo mesmo e seu público.