
Indo onde outros já estiveram
Star Trek - também conhecido como Jornada nas Estrelas, aqui no Brasil - é uma franquia gigante, onde seus fãs estão espalhados pelo mundo. Agora a série faz 50 anos e ganha sua terceira continuação do reboot que começou em 2009 pelas mãos do diretor J.J. Abrams (Super 8, 2011), que na primeira oportunidade foi trabalhar com o concorrente Star Wars: O Despertar da Força (2015) e deixou a cadeira de diretor para Justin Lin (Velozes e Furiosos 4, 2009), que ficou responsável por manter o nível estabelecido pelo seu antecessor.

Kirk (Chris Pine) está com dúvidas em ser o capitão da Enterprise, que recebe uma mensagem de socorro e acaba levando-os para uma armadilha onde metade da tripulação é capturada, assim precisa colocar suas dúvidas de lado e salvar a equipe do vilão Krall (Idris Alba), tendo ajuda de Spock (Zachary Quinto), Dr McCoy (Karl Urban), Scotty (Simon Pegg), Checkov (Anton Yelchin), Uhura (Zoe Saldana) e uma alienígena chamada Jaylah (Sofia Boutella).
Sempre fui mais fã de Star Wars do que Star Trek, vi uns episódios, gostando de alguns, contudo nunca fui fascinado pelo o universo "Trek" até que vi o Star Trek de 2009 e embarquei de vez nessa nave, revendo os filmes e séries antigas. Comecei a perceber falhas na armadura brilhante desse novo reboot, que em vez de seguir um novo caminho - respeitando a mitologia iniciada em 1966 com a série clássica - fica repetindo a mesma receita dos filmes antigos, em particular A Ira de Khan (Nicholas Meyer, 1982). Se você rever os dois primeiros filmes do vai perceber uma semelhança com o filme de 1982, onde os filmes seguem a mesma estrutura, o que antes parecia ser apenas um ponta-pé para uma nova geração, virou um ciclo vicioso.
Sem Fronteiras é prova disso. O filme não é ruim, mas existe um desgaste dentro da franquia, presa a uma fórmula criada por J.J Abrams. Os pontos positivos ficam por conta do elenco - que retorna perfeitamente aos papéis - e o roteiro de Simon Pegg (Heróis de Ressaca, 2013) e Doug Jung (Confidence - O Golpe Perfeito, 2003), que sabe usar o carisma dos personagens. O diretor acerta o coração da obra ao se focar na tripulação da Enterprise, pois é o que faz a franquia funcionar até hoje.

J.J Abrams adaptou muitas coisas de Star Wars para incorporar nos dois primeiros filmes do reboot, depois foi fazer o mesmo com o Episódio 7, prejudicou a incorporação dos novos cineastas na produção, precisando achar novamente a identidade e injetar sangue novo. O terceiro filme falha ao repetir A Ira de Khan mais uma vez. Exemplo disso é o vilão vivido por Elba, que tem uma boa concepção dentro da narrativa, mas se você parar para dissecar o contexto, não funciona nem faz sentido. Ele discursa constantemente sobre poder do indivíduo contra a sociedade, sendo que o próprio vive em sociedade. Tudo bem que ele é como um espelho do que poderia acontecer com os mocinhos no filme - exatamente como Khan - mas tem um roteiro tão fraco que só serve de exemplo como o mundo cinematográfico dos Trekkers está viciado em uma fórmula.

Os roteiristas - mesmo sendo fãs da obra original - não conseguiram enxergar as armadilhas dentro da sua escrita. Talvez se não tivessem cercados pelos próprios egos conseguiriam ver o quanto o material é falho. Apesar do diretor ter sua parcela de culpa, consegue juntar tudo e fazer um filme competente, tendo a ajuda de um elenco talentoso em mãos e um ritmo intrigante para a audiência embarcar nessa aventura.
Não que a fórmula não funcione, mas você precisa mais do que saber superficialmente como ela acontece, e de certa forma os criadores de Sem Fronteiras sabem parte disso. Só espero que encontrem o próprio caminho em vez de seguir o caminhos dos outros, indo onde ninguém foi antes.