Vou comentar aqui mais alguns filmes que estão sendo exibidos na 40ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
NUNCA VAS A ESTAR SOLO, o filme chileno de Alex Anwandter, aborda a questão da homofobia, não só pelo lado da dor, dos sentimentos e das relações familiares, mas também pelo lado pragmático, o do custo dos atendimentos hospitalares e dos planos de saúde, a questão da legislação e da atuação policial. Ou seja, dos óbices à garantia de direitos e suas consequências. Boa realização.
SEM DEUS, filme da Bulgária, dirigido por Ralitza Petrova, trabalha com a personagem Gana, cuidadora de idosos. Mas, ao mesmo tempo, ela é dada a ilegalidades, falcatruas, maldades, e tudo parece ficar por isso mesmo. Algo vai mudar, mas nada fica muito claro e o filme navega em emoções opacas e falta de ritmo.
EL OLIVO
O espanhol EL OLIVO, da diretora Iciar Bollain, se utiliza de uma narrativa clássica para contar uma boa história, que une uma oliveira de 2000 anos, um avô, uma neta e uma empresa que adotará a árvore como logotipo, de uma hipócrita sustentabilidade. A jovem Alma é uma personagem forte, marcante. Vale o filme. Que tem, ainda, lindas paisagens de olivais.
EXERCÍCIOS DE MEMÓRIA, do Paraguai, é um documentário que conta uma história trágica com imagens plácidas. O desaparecido político Agustín Boigurú, médico e maior adversário político do ditador Alfredo Stroessner, é lembrado por seus 3 filhos, crianças na época do desaparecimento. Imagens de uma casa abandonada ás pressas, rio e floresta, além de fotos antigas muito bem trabalhadas visualmente, ilustram o que se verbaliza. Dirigido pela cineasta que fez HAMACA PARAGUAYA, Paz Encina.
INTERRUPÇÃO
O filme grego INTERRUPÇÃO, um tanto intelectualizado, vai para um terreno experimental. Como se pode interagir com os mitos e alterar o rumo das decisões para o nossa realidade? Como o teatro pode incorporar a plateia na encenação e nas decisões? Se ela entra na peça o que é real e o que não? Qual é o papel do coro e o que ele representa hoje? O mito de Orestes, que matou a própria mãe, é o mote da encenação. Uma ambivalência constante toma conta da narrativa. Primeiro longa de Yorgos Zois. Se fosse um pouco menos pretensioso poderia funcionar melhor.
A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, mais uma vez põe em evidência um dilema moral. Desta vez o de uma médica que não atende a campainha após o expediente e fica sabendo que a pessoa que procurou o consultório morreu. A partir daí o filme vai pouco a pouco moldando as ações movidas pela culpa. É um belo trabalho, mas tem problemas com a verossimilhança e com a solução do caso, que acontece em desacordo com o clima do filme.
A GAROTA DESCONHECIDA
Quem puder ver ou rever O QUARTO HOMEM, de Paul Verhoeven, produzido na Holanda em 1983, vai constatar que o filme continua ótimo e atual. Só que hoje não escandaliza tanto quanto na época de seu lançamento. Está sendo apresentado em película, o que atualmente também é raro.