A menina nascida rei
Em A Jovem Rainha, era uma vez, no Império Luterano da Suécia, o rei Gustavo II Adolfo e a rainha Maria Leonor (Martina Gedeck) que desejavam ter um menino. Então, nasceu Cristina (Lotus Tinat). Seu pai deu ordens de educar a menina como príncipe antes de morrer em combate durante a Guerra dos Trinta Anos.
Em duplo desgosto, a rainha embalsamou o corpo e obrigou a filha de seis anos a beijar o rosto do pai morto - como se estivesse apenas dormindo - em vez de assumir o trono, tarefa exclusiva dos homens. Um dia, o chanceler Axel Oxenstierna (Michael Nyqvist) decide levar a futura monarca - para o bem da sua educação e conforme os desejos de seu pai - para ser educada como príncipe. Quando completou 18 anos, se tornou a Rainha Cristina da Suécia (Malin Buska).
Suas principais medidas de soberana foram a paz entre católicos e luteranos e a transformação de Estocolmo como a Atenas do Norte, ou seja, levar o conhecimento ao povo sueco e afastá-los da ignorância da religião. Já o Conselho Real pensava que ela deveria continuar a guerra contra Alemanha apoiada pelo Papa, não interferir no modo de vida dos seus súditos e arranjar um marido para gerar um rei.
Em suas horas livres, Cristina prefere vestir-se como um lorde, escrever cartas para o filósofo René Descartes (Patrick Bauchau), ler livros proibidos pelo luteranismo e desfrutar da companhia da Condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon), sua amante a quem chamava de "Dama de Cama".
Apesar de se passar no século XVII, lembra uma sofisticada e sutil comédia histórica, através das frases de efeito da protagonista: “Como Lutero, hoje vou dormir com o demônio” ou “pelo santo saco de Cristo, não vou esperar mais”, das músicas de zombaria do estilo de vida da monarca e as investidas fracassadas de seu primo Karl Gustav (François Arnaud) em conquistar seu coração.
O diretor finlandês Mika Kaurismäki (Estrada para o Norte, 2012) deu como principal foco da obra a sexualidade da rainha, o que faz da tolerância o principal tema do filme, seja nos conflitos internacionais ou dentro de casa. Irmão do cineasta Aki Kaurismäki, o diretor foi vencedor do Grand Prix de Cannes pelo O Homem Sem Passado (2002). Aqui faz uma cômica biografia sobre a menina-rei. O filme é indicado para os interessados em conflitos de religião e ciência, religiões diferentes, orientação sexual e papel de gênero, e principalmente, feminismo e patriarcado.