Fábula infantil, mas não para os muito jovens
Refilmagem em live-action (com atores) da primeira animação a concorrer - e ganhar - o Oscar de melhor trilha-sonora e canção original, A Bela e a Fera chega aos cinemas numa bela e luxuosa produção.
Na fábula, um príncipe é transformado em animal devido à sua arrogância cujo encanto só terá fim se - antes que caia a última pétala da rosa - uma mulher se apaixonar por ele. Bela (Emma Watson), uma jovem linda e independente, deixa-se prender pela Fera (Dan Stevens) para que seu pai possa fugir. Após um tempo presa numa casa onde relógio, castiçal, xícaras e piano falam, acaba por apaixonar-se por seu algoz, ao perceber que trata-se de uma pessoa culta, educada e sensível.
Escrito por Evan Spiliotopoulos (O Caçador e a Rainha do Gelo, 2016) e por Stephen Chbosky (As Vantagens de Ser Invisível, 2012), o filme consegue ser mais do que "mais uma produção Disney". Isso porque, apesar de se manter fiel ao original - de 25 anos atrás - tanto no roteiro quanto nos enquadramentos e direção de Bill Condon (O Quinto Poder, 2013), ousa em apresentar o personagem LeFou, interpretado brilhantemente por Josh Gad (Quatro Vidas de um Cachorro, 2017) como apaixonado por pelo vilão Gaston (Luke Evans). Além disso, há doses de violência um pouco excessivas para crianças muito novas.
Provavelmente por conta disso, os roteiristas e diretor tiveram que "colocar o pé no freio" e manter um filme muito próximo à versão de 1991. Talvez os estúdios Disney tenham achado que seria muito arriscado inovar mais no roteiro - que já possui muitos fãs com memória afetiva que esperavam ver a mesma história de suas infâncias agora com atores reais.
A forma com que rapidamente Bela se apaixona pela Fera pode até parecer verossímil na animação, - onde a realidade é mais distante - mas quando vemos isso acontecendo com atores de verdade, torna-se difícil de acreditar. Apesar dos efeitos especiais serem ótimos para tornarem possível que objetos falem, ver a Fera o tempo todo através de computação gráfica torna mais difícil a identificação com a história.
O musical com o mesmo título que fez sucesso internacional - inclusive no Brasil - parece ter influenciado o diretor, que apresenta diversos números de muita qualidade, lembrando até grandes sucessos do cinema como Sete Noivas para Sete Irmãos (Stanley Donen, 1955) e A Noviça Rebelde (Robert Wise, 1965). Musicais, aliados à trama, fizeram do filme longo - mais de duas horas de duração - e "arrastado", novamente não indicado para crianças muito pequenas.
Apesar da refilmagem de sucessos da animação ser um novo filão para a Disney, A Bela e a Fera mostra que os estúdios não estão buscando apenas dinheiro fácil, mas sim levar os contos infantis um passo à diante do que a geração anterior estava acostumada.