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OS BELOS DIAS DE ARANJUEZ (Les Beaux Jours d'Aranjuez)

Sem ação! Só diálogo!

O trecho da cena inicial da biografia teatral Dom Carlos (1787) - do poeta e historiador alemão Friedrich Schiller (1759 - 1805) - serviu de inspiração para uma peça destinada ao teatro escrita por Peter Handke. Mas por falta de interesse das companhias, foi convertida em roteiro cinematográfico pelo diretor alemão Wim Wenders, indicado três vezes ao Oscar de Melhor Documentário: Buena Vista Social Club (2000), Pina (2011) e o O Sal da Terra (2012) junto com o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.


A abertura é ao som da música Perfect Day, cantada por Lou Reed numa caixa de som antiga, tendo como pano de fundo a capital francesa e as paisagens campestres de Venix (França) onde as filmagens em tecnologia 3D aconteceram. Na casa - pertencente à atriz francesa do cinema mudo Sarah Bernhardt -, um escritor (Jens Harzer) imagina um homem (Reda Kateb) e uma mulher (Sophie Semin) conversando num jardim. Esta aparente ocasião, num dia de verão, gera a inspiração de um longo diálogo escrito numa velha máquina de escrever ao lado de um Ipad.


A partir daí, o casal irá discutir questões como sexualidade, amor, infância e também suas memórias e a vida em si durante os noventa e sete minutos do longa, beirando a espontaneidade e a fidelidade às regras impostas por ambos. “Combinamos que não é possível limitar a resposta a um ‘sim’” - argumenta o homem que sempre dá o tópico das conversas para a mulher que nunca pergunta nada. Mas é graças a ela que há uma piada metalinguística do filme.

Os subtextos, mudanças de tema, pausas para esticar as pernas, acenar para o jardineiro (Peter Handke), ouvir o próprio cantor Nick Cave ao piano tocando Into My Arms e acender o cigarro foi resultado de um ensaio de várias semanas de preparação dos três atores principais. O roteirista apareceu apenas um dia dos dez de filmagem. Além deles, a trilha-sonora assume a função de coro grego, ou seja, transmite ao público o que os personagens principais não poderiam dizer, como os seus medos ocultos ou segredos. A câmera estereoscópica e o cenário também se assumem como recursos para prender a atenção do público acostumado a frenesi dos filmes comerciais.


Este trabalho de baixo orçamento que une cinema, literatura, teatro e música é uma retomada da parceria entre diretor e autor teatral desde Asas do Desejo (Win Wenders, 1987). E rendeu uma indicação ao Leão de Ouro, premio máximo concedido pelo júri do Festival Internacional de Cinema de Veneza.


Quem for apegado a detalhes de cena ou a conjunção de idéias - e à análise de metáforas - será uma boa experiência, embora Handke confesse ter aversão ao 3D por seu uso comercial e desnecessário para a narrativa cinematográfica do cinema em geral.


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