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O ESPAÇO ENTRE NÓS (The Space Between Us)


Muda-se o planeta, o humano permanece

O Espaço Entre Nós, do diretor Peter Chelsom (Hector e a Procura da Felicidade, 2014), é um novo filme de ficção científica dentre aqueles exploradores das viagens do ser humano para fora da Terra e a sua tentativa de colonização em outro planeta, no caso Marte. Não será o último, certamente, pois é um tema cada vez mais recorrente nos nossos tempos e no desenvolvimento de tecnologias para tal. E o cinema não deixaria de se envolver nas possibilidades existenciais que tais práticas e teorias trazem na reconfiguração de ocupação, permanência e relação social.


A trama mostra um jovem adolescente, Gardner Elliot (Asa Butterfield), nascido e crescido em Marte, filho da astronauta Sarah Elliot (Janet Montgomery) que morre no parto. Sua vida se desenvolveu até o momento em uma base espacial, sua relação e formação se dá com os astronautas, o que lhe possibilita um avançado grau de estudos. Como uma figura materna, a astronauta Kendra Wyndham (Carla Gugino) lida com Gardner e sua vontade de ir à Terra. O jovem conversa pelo computador com a adolescente Tulsa (Britt Robertson), residente nos Estados Unidos. Desta relação surge uma afeição entre os dois. O conflito do filme estabelece-se na procura do jovem por seu pai e a permanência na Terra em relação com os problemas de saúde que isso acarreta, pois a gravidade diferente dos planetas fez com que a formação corporal de Gardner fosse mais frágil em comparação à dos terráqueos.

A ocupação e permanência do ser humano em outros planetas e a viagem pelo espaço já foram explorados e crescem cada vez mais na literatura e no cinema. Nomes como Isaac Asimov (com o livro Fundação), George Lucas (Star Wars) e Stanley Kubrick (2001 – Uma Odisseia no Espaço) sempre são associações rápidas quando o tema aparece. O mais recente filme de Ridley Scott, Perdido em Marte (2015), trata de um astronauta solitário e suas peripécias para sobreviver no planeta vermelho, alvo e meta cada vez mais aprofundada dos detentores do poder e recursos para tal. A exploração marítima e o espírito colonizador ainda existem, desenvolvidos tecnologicamente, em um desejo irrefreável de estabelecer a vida a qualquer custo em outros espaços, latência de uma consciência autodestrutiva e refúgio para uma nova tentativa de existência, possível culpa de não resolver os problemas terrenos e uma segregação social.


Novas circunstâncias acarretam em novos perfis psicológicos, e esta é uma questão retratada no filme em uma história de amor duplo, o desejo de busca pelo pai e a descoberta em experimentação com uma garota na adolescência, fase crítica da vida pela qual todos passamos com alegrias e frustrações. A atuação de Butterfield está sincronizada com a demanda narrativa, com momentos cômicos, românticos, eufóricos e dramáticos, nos quais a personagem está construída para envolver o público em seu objetivo e conflito, e isto de fato acontece.


A parte técnica do filme segue uma direção, fotografia e montagem do cinema clássico. Fórmulas de segurança para um diálogo cômodo com o público em seu emocional e não também a exploração sensorial do tema em uma construção estética proporcional.


A ressignificação de uma história de amor e suas (im)possibilidades entre um extraterrestre à procura de seu progenitor e uma terráquea em uma época na qual o amor existe com certo distanciamento prático, nada mais angustiante e resistente do que procurá-lo em outro planeta. O final feliz para a vida continua a ser um desfecho procurado.


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