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UM INSTANTE DE AMOR (Mal de Pierres)


Transgressão das moralidades aparentes


Um Instante de Amor, novo filme da atriz, diretora e roteirista Nicole Garcia (Um Belo Domingo, 2013), é uma adaptação do romance Mal di Pietre da escritora italiana Milena Agus (Guardati dalla mia Fame, 2014). Mais uma vez, a diretora mostra sua capacidade de adentrar nas tensões de uma personagem de maneira sutil, frágil e visceral. Quando se vê o mergulho foi profundo, sem chance de volta e a maneira de se respirar não será mais a mesma.


Apaixonar-se é um dos maiores atos de transgressão na humanidade, principalmente nos tempos atuais. É sinônimo de irracionalidade, e ao mesmo tempo de desassociação da regra apática. Complexo em essência, visceral na confusão. Os moldes de relação se ressignificam a cada dia, para se aprender a lidar com os sentimentos, e não por acordos econômicos ou morais de uma instituição. Muita frustração ainda ocorrerá, lágrimas incharão rostos no experienciar do amor.


O passado é impossível de ser apagado. Sustenta as bases do futuro e prepara o corpo para as cicatrizes vindouras. Ninguém sai ileso. Todos carregam dentro de si a angústia. Se ela é explicitada ou não nas relações, vai de acordo com a postura de cada indivíduo. Mas fica ali, latente em cada segundo, em cada passo. E em algum momento pode vir à tona para desconstruir a realidade reproduzida.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a mãe de Gabrielle (Marion Cotillard) - preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada - arma o seu casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas numa clínica e encontra no tenente à beira da morte - André Sauvage (Louis Garrel) - a paixão que jamais teve pelo marido.


O filme foca na protagonista, e Marion traz as nuances necessárias para esta personagem, bela, enigmática, contida, animalesca, de uma loucura catalisadora. Dentro da proposta realista consegue-se perceber a desconstrução do ator, algo que nos filmes americanos é raro. Mas essa potência da personagem feminina é equilibrada para não se sobrepor com as certeiras atuações de Alex e Garrel.


A fotografia proporciona imagens poéticas em seus tons frios, aliada a uma montagem que articula a construção do tempo narrativo. Os pontos são ligados trecho a trecho, e não apenas a consequência temporal a partir de um acontecimento. Está a favor para realmente conhecer o universo desse sentimento da personagem.


Aos dispostos em imergir sensorialmente no amor e as arestas que cria na vida é uma ótima opção, para se ver um filme sincero e poético em sua proposta, aos que esperam um final feliz ilusório fica a dica para a ressignificação do olhar e da experiência.


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