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GOSTO SE DISCUTE


Simples e bem feito como uma comida de bistrot

A moda "gourmetizada" parece que chegou para ficar. Num país onde os novos ricos - e, muitas vezes, nem isso - adoram posar de "diferenciados", restaurantes voltados à alta gastronomia e food trucks - nada mais do que alimentação de rua metida à besta e com preços abusivos - tinham tudo pra dar certo. Não à toa, o programa MasterChef (BAND) e seus genéricos se proliferaram por aqui.


Recentemente, o fraco filme Duas de Mim (Cininha de Paula, 2017) abordou esse tema numa comédia, agora é a vez do diretor André Pellenz (Minha Mãe é uma Peça - o filme, 2012) explorá-lo numa comédia romântica com maior dignidade.


Na trama, Augusto (Cassio Gabus Mendes) é um chef de cozinha de um restaurante badalado e frequentado por celebridades como Mariana Ximenes - no papel dela mesma - que vê sua clientela esvaziar, enquanto lota um food truck parado na frente de seu comércio. Diante da situação, o banco credor manda a auditora Cristina (Kéfera Buchmann) para reformular todo o espaço e o cardápio a fim de reerguer o negócio. O chef fica tão atormentado que é acometido por uma síndrome que faz com que perca o paladar às vésperas de tentar recuperar a nota máxima de um crítico de uma famosa revista e assim recuperar seu prestígio.


Obviamente - como em toda comédia romântica - o casal irá se odiar para depois se apaixonar. Com roteiro e direção assinados por Pellenz, o filme segue a cartilha do gênero, sem grandes pretensões e com situações previsíveis. Por outro lado, consegue da dupla protagonista - que nem possui tantos recursos dramatúrgicos - uma boa química para que a gente tenha interesse em acompanhar a história.


A produção teve que suar pra realizar o filme com baixo orçamento, com isso, sabiamente mantém praticamente todo o filme apenas numa locação. Exceção apenas à cena em que o casal faz um passeio pelo Mercado Municipal de São Paulo. O roteiro consegue - de forma quase premonitória - identificar a derrocada dos caminhões de alimentação.

Dizem por aí que os chamados youtubers são a "nova Disney" do audiovisual, pela capacidade de atraírem público. Não se sabe se isso se repetirá com Kéfera em Gosto se Discute, mas fato é que ela não faz feio no papel. Com um belo elenco coadjuvante, o destaque vai para Gabriel Godoy (Os 3, 2011), que faz muito bem o papel do dono do food truck que enlouquece o protagonista. Outro destaque é o baiano Zéu Britto, que interpreta um cozinheiro gago e deixa a sensação de que sua participação deveria ter sido melhor explorada. Outro belo destaque é o ator Nilton Bicudo (O Candidato Honesto, 2014), no papel de um fiscal da vigilância sanitária. Com participações pontuais, o ator é preciso em todas as suas cenas e é fundamental no desfecho do filme. Em compensação, a atriz Sílvia Lourenço (Joaquim, 2017) está deslocada. Acostumada a fazer bons papeis dramáticos, aqui está caricata e exagerada. O elenco ainda trás Paulo Miklos e Robson Nunes.


A síndrome do protagonista - que pode parecer pura dramatização - curiosamente teve um caso similar comentado pela chef Paola Carosella há poucos dias no programa MasterChef. Um ponto positivo que marca a mudança da percepção de Augusto é o uso da música Hocus Pocus - um dos maiores clássicos do rock mundial - da banda holandesa Focus. Com bom impacto no orçamento da produção, foi uma excelente escolha para marcar a mudança do personagem.


Aliás, se existe um ponto em que a produção merece destaque são os pratos apresentados, com requinte e sofisticação dignos de qualquer grande restaurante do mundo.


Gosto se Discute não é daqueles filmes pra ficar na memória - e nem é sua pretensão -, mas é agradável e bem feito, algo como uma comida de bistrot, já que não dá pra escapar do trocadilho gastronômico.


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