Uma bela mensagem de aceitação
Não sei se os mais jovens conhecem, mas pra quem tem mais de quarenta anos, o desenho do touro que não gostava de briga e era apaixonado por flores marcou a infância. Era um desenho de apenas oito minutos e foi produzido pela Disney em 1938, baseado no conto The Story of Ferdinand (Munro Leaf, 1936). Talvez não por coincidência, o livro foi lançado dois anos antes da Segunda Guerra Mundial, sendo proibido em vários países sob regime ditatorial e saindo premiado com o Oscar.
A animação ganha versão de longa-metragem sob direção do brasileiro Carlos Saldanha (Rio, 2011). Na trama, Ferdinando é um bezerro diferente, que tem horror a briga e paixão incomparável pelas flores. Sabendo que seu destino é lutar nas touradas ou ser enviado para o açougue, consegue fugir e é criado por um fazendeiro cuja filha lhe trata como um cão de estimação, mesmo se tornando um touro enorme e forte. Por um incidente, novamente é levado para a Casa de Toros, local em que vivia na infância, onde os animais são preparados para lutarem na arena. Dessa forma, o destino lhe bate à porta outra vez.
de paz, o filme traz como importante subtexto a aceitação das diferenças. Longe de querer dizer que o touro seja efeminado por gostar de flor e não de briga, é importante que as crianças aprendam desde cedo a respeitar as individualidades, ainda mais neste, que é o país que mais mata homossexuais no mundo.
É sempre uma enorme satisfação ver um trabalho de tanta qualidade dirigido por um brasileiro e com um orçamento tão grande: cem milhões de dólares. O filme tem uma belíssimo acabamento, momentos de pura diversão - como naquele em que o protagonista tem que passar por entre prateleiras de louça sem quebrar nada - mas é um pouco longo. Para transformar um curta-metragem num longa, foi preciso criar e desenvolver diversos personagens, porém, tendo como público alvo as crianças, seus 109 minutos tornam-se excessivos. Os personagens mais divertidos - além do protagonista - são o rabugento cachorro Paco, os ouriços Um, Dos e Cuatro (que são hilários dançando a famosa Macarena) e a cabra Lupe, brilhantemente interpretada, na versão dublada, pela atriz Thalita Carauta (S.O.S. - Mulheres ao Mar, 2013).
Faltou na versão dublada uma música cantada por algum artista nacional e popular - durante a exibição imaginei o cantor Latino numa versão das canções, mesmo não sendo fã das músicas dele - para que as crianças pudessem sair do cinema cantando.
Como animações tem a tradição de trazer mensagens edificantes, talvez O Touro Ferdinando tenha perdido uma ótima oportunidade de questionar a necessidade de se comer tanta carne. De qualquer forma, tem muitas virtudes - como agradar a crianças e adultos - e só o fato de ser dirigido por um brasileiro já vale o ingresso.