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SEVERINA


Poético sem ser pretensioso

Se o cinema brasileiro está cada vez maior e melhor, agora começa a surgir coproduções com outros países. E ninguém melhor do que o produtor Rodrigo Teixeira (Me chame pelo seu nome, 2017) - maior expoente nacional em parcerias internacionais - para encabeçar uma produção Brasil/Uruguai.


Todo filmado na belíssima cidade de Montevidéu, Severina conta a história de R (Javier Drolas), o dono de uma livraria de rua que descobre que Severina (Carla Quevedo) - uma das frequentadoras - tem o costume de roubar livros de sua loja, mas rapidamente se apaixona por ela. Uma bonita e misteriosa mulher que desaparece e reaparece com a maior naturalidade e tem um homem (Alfredo Castro) mais velho que não se sabe se é seu pai ou amante.


Mesclando mistério e romance, a trama envolve o espectador, apresentando uma cidade quase fictícia, com ruas vazias (um recurso narrativo ou simplesmente facilitador de produção?) e personagens apaixonados por literatura. Daqueles raros hoje em dia, em que as pessoas fazem questão de ler em livros, não em computadores ou e-books. Pessoas que se reúnem para saraus poéticos no fundo da loja.


O diretor e roteirista Felipe Hirsch (Insolação, 1020) tem uma premiada carreira em teatro e lança seu segundo filme, dessa vez todo falado em espanhol e em parceria com Teixeira. Apesar de todo rodado na capital uruguaia, tem o elenco encabeçado por dois argentinos (Drolas e Quevedo) e o chileno Alfredo Castro (Neruda, 2016).


Com uma esmerada e dessaturada fotografia do português Rui Poças (Tabu, 2012) - que aproveita-se muito bem das belíssimas e antigas locações -, o filme tem como ponto alto a dupla argentina de protagonistas. Drolas - que se tornou conhecido no Brasil após protagonizar o cultuado Medianeras - Buenos Aires na era do amor virtual (Gustavo Taretto, 2011) - é parceiro constante do diretor em diversos espetáculos teatrais e tem uma melancolia no olhar que traz intensidade para a mais simples das ações.


É um filme de beleza rara, poético sem carregar na tinta, que certamente emociona os mais saudosistas ou apaixonados por literatura, e uma bela trama que segura o espectador sem nenhuma dificuldade em seus 100 minutos de projeção.



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