O autismo volta e meia é tema de algum filme. Uns mais puxados para o melodrama - como Meu filho, meu mundo (Glenn Jordan, 1979) - e outros com pegada mais divertida - como a excelente animação Mary e Max - uma amizade diferente (Adam Elliot, 2009).
Agora o tema volta às telonas no filme Tudo que Quero, dirigido pelo veterano polonês Ben Lewin (As Sessões, 2012), o roteiro foi escrito por Michael Golamco, uma adaptação de sua peça homônima.
Na trama, Wendy (Dakota Fanning) é uma jovem autista que mora num lar para pessoas com distúrbios mentais administrado pela carinhosa e dedicada Scottie (Toni Collette) e vive na mais restrita rotina. Todos os movimentos diários são seguidos à risca, desde o banho matinal até a ida ao trabalho numa lanchonete à poucas quadras da casa.
A única parente da jovem é sua irmã Audrey (Alice Eve), que vive com seu marido e uma filha recém-nascida. Não é bem vinda na casa - em que adoraria morar - porque a irmã teme alguma atitude mais agressiva com a filha.
A maior paixão de Wendy é a série Jornada nas Estrelas (Star Trek) e fica enlouquecida com a promoção de se escolher um novo roteiro para a saga. Apesar de saber tudo sobre a série e ter relido muitas vezes seu roteiro para certificar-se que está ótimo, o tempo que resta não será suficiente para que este chegue nos Estúdios Paramount, então a trama ganha ares de road movie.
Se não é um filme para ficar na cabeceira de nenhum cinéfilo, também não é um filme descartável. Apesar de poder - e provavelmente será - atração da tradicional Sessão da Tarde, é um filme leve, delicado, que nos dá uma sensação agradável ao seu término, sem ser necessariamente o chamado feelgood movie. O fato de ter um diretor tão experiente encabeçando o projeto faz com que a história seja contada sem exageros dramáticos, muito menos melodramáticos.
A atuação da protagonista inegavelmente carrega o filme nas costas, e tem no policial Frank (Patton Oswalt) - que utiliza a linguagem da série Jornada nas Estrelas de nome klingon para se comunicar com a moça - uma bela sacada e alívio dramático num momento em que a personagem passa muitas dificuldades.
Quem quiser vê-lo com olhos realistas vai reclamar que os maiores problemas enfrentados por autistas e as consequências reais das situações por ela vividas não são mostradas, mas há que se perceber que o objetivo da obra era algo mais leve e descontraído. Algo conseguido plenamente.
Dois destaques: o cachorrinho da protagonista - que viaja com ela durante toda a aventura - por várias vezes "rouba a cenas". Algo muito frequente quando se usa animais em filmes. Outro destaque é a trilha-sonora assinada pelo brasileiro Heitor Pereira, que consegue preencher muito bem os momentos dramáticos e divertidos do filme sem ser redundante nem repetitivo.
É daqueles filmes que nos fazem sair com a alma leve da sala de cinema.