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EM UM MUNDO INTERIOR


Iguais na Diferença

O documentário de Flávio Frederico (Em Busca de Iara, 2014) e da diretora estreante Mariana Pamplona aborda o tema do autismo com uma narrativa clássica de depoimentos combinados com cenas de crianças e jovens portadores dessa diferente forma de ser, conforme ouvimos na fala de uma especialista ao ensinar sobre o espectro de diferenças na sua manifestação.


A câmera acompanha os personagens na escola, em suas casas, em ambientes de auxílio ao autista, retratando os esforços, dificuldades e angústias no movimento de trazê-los para a relação familiar e comunitária. Intercalando a fala de familiares e especialistas, ora em cena, ora em off, aqueles que não conhecem o autismo vão aprendendo na empatia do humano ali mostrado, que não se trata de uma doença, mas de um arranjo neurológico distinto que assume diferentes resultados de comportamento de caso em caso. Alguns conseguem um pouco mais de interação, outros se fecham mais em seu mundo.


Quem vier a ter um autista em sua família e compreenda melhor a situação, poderá ainda assim reconhecer em outros casos as mesmas ansiedades que afligem o envolvimento emocional de romper a falta de comunicação.

Não há espaço para sentimentalismos baratos, nem enaltecimento da condição do autista. Se o filme tem uma virtude, seguramente é tratar do assunto de forma racional e humana. Por outro lado, não explora a presumida dificuldade adicional que deve ser para uma família pobre conseguir aquilo que muitos dos personagens conseguem através de tratamentos e cuidadores dedicados. Há personagens em escola pública onde a receptividade e tratamento parecem funcionar, porém um documentário que pretende aprofundar o tema, deveria ao menos inserir em seu argumento a pergunta: Como será a vida de um autista na periferia desse Brasil? Para quem vive por aqui, e sabe das carências públicas, não vê esse lado de provável exclusão social no filme: autismo e pobreza. O primeiro estamos seguros no documentário não ser doença, quanto ao segundo, entretanto, uma moléstia social, ficamos sem saber o quanto estigmatiza a primeira.


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