
Silêncio que pesa
Chega às telas brasileiras o filme Hannah, de Andrea Pallaoro (Medeas, 2013), segundo longa metragem do diretor e roteirista italiano, de apenas 36 anos. O cineasta declarou em entrevista de lançamento que não pôde pensar em outra atriz que não Charlotte Rampling (Euphoria, 2017) para seu filme.


A obra é toda focada na personagem Hannah (Charlotte Rampling), uma mulher submissa e de terceira idade que faz aulas de teatro e natação, e trabalha como empregada doméstica. Quando o marido vai preso, ela se vê frente a frente com a solidão. O roteiro, traz em seu bojo, uma análise crítica do papel da mulher numa sociedade patriarcal.
O filme se inicia com um silêncio perturbador, que permanece na maior parte do tempo. O casal quase não fala e nem se sabe a razão pela qual o marido foi preso. A história é permeada pelo não dito. Aos poucos, com uma pista aqui, outra ali, é possível imaginar o crime. No entanto, o enfoque do diretor está na carga de sofrimento da protagonista, em seu desespero por não saber como será seu futuro na ausência do companheiro, nas suas frustrações, perdas e envelhecimento.

A plateia caminha junto com Hannah, que através de sua expressão facial demonstra estar vivendo um período muito difícil. A personagem possui uma couraça com a qual protege seus pensamentos e emoções, mas há momentos em que seu olhar transmite emoções nunca antes expressadas. Trata-se de um papel difícil, mas a interpretação de Charlotte é brilhante. É ela, com mais de 50 anos de experiência de cinema, que dá tom ao filme. Merecidamente, ganhou prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza de 2017.
É um filme que agrada ao público que aprecia dramas intimistas e humanos.