
Nova tentativa de se fazer um filme de qualidade
e que se comunique com o público
Baseado em livro homônimo do escritor pernambucano Klester Cavalcanti, o filme O Nome da Morte chega para ampliar ainda mais os horizontes de nosso cinema nacional. Numa mistura de drama, policial, suspense e ação, o filme conta a história real de Júlio (Marco Pigossi), um jovem que vive uma pacata vida de interior até ser arregimentado por seu tio Cícero (André Mattos) para tornar-se um matador de aluguel. O pistoleiro tem um envolvimento amoroso com Maria (Fabiula Nascimento), que casa-se com ele pensando que Júlio e o tio são policiais, sem nem fazer ideia de sua real profissão.

Prematuramente, o ator Wagner Moura havia anunciado a compra dos direitos de adaptação, mas esta coube ao experiente roteirista George Moura (Redemoinho, 2017), que optou por um recorte da forma com que o protagonista lida com a morte rotineira e como conduzir a esquisita profissão sem o conhecimento da família. Com um tema tão fascinante, dá pra imaginar a dificuldade de se descartar pontos importantes diante da limitação de tempo que tem um longa-metragem. Talvez o ideal seria em formato de série. Dessa forma, haveria possibilidade de se aprofundar em como o protagonista se transformou de uma pessoa que passa mal ao assistir a uma morte até chegar ao ponto de executar qualquer tipo de pessoa da forma que o contratante escolher.
Também seria interessante saber como o pistoleiro conseguiu enganar sua mulher durante anos até que isso não fosse mais possível, e a forma com que ela passou a lidar com a estranha descoberta. Isso sem mencionar que matou quase 500 pessoas - tendo sido preso apenas uma vez e logo solto através de suborno - cujo autor do livro revela nomes verdadeiros do pistoleiro, dos mandantes e das vítimas. São muitas as curiosidades que a história desperta e os fatos que ficamos com vontade de conhecer mais assistindo O Nome da Morte.

Filme de estreia de Pigossi, o ator está muito bem no papel do assassino e aparentemente dispensou dublê na sequência inicial, onde pula muros e corre por telhados, vindo a cair no chão. Um grande plano-sequência coordenado pelo diretor de fotografia Azul Serra, recente revelação nacional. As viagens que o assassino faz para "trabalhar" propiciam diversas participações especiais, como Tony Tornado (A Noite da Virada, 2014), Matheus Nachtergaele (Sob Pressão, 2017), Augusto Madeira (Bingo - O Rei das Manhãs, 2017) e Martha Nowill (Ponte Aérea, 2015), que merece destaque por sua brilhante participação.
O filme também marca a evolução do diretor Henrique Goldman, que havia dirigido o mediano Jean Charles em 2009 e agora chega revigorado com uma direção forte e precisa. A montagem de Livia Serpa (Linha de Passe, 2018) trás excelente ritmo e segura o espectador sem nenhuma dificuldade. Sabiamente, o diretor utiliza André Mattos como uma espécie de alívio cômico, numa história tão pesada, sem deixar com que perca as rédeas de seu filme.
O Nome da Morte deixa o famoso "gostinho de quero mais" e a torcida de que faça sucesso o suficiente para uma continuação ou (quem sabe?) transformar-se em minissérie.