Uma bela e justa homenagem
Chega aos cinemas o filme 10 Segundos para Vencer, dirigido por José Alvarenga Jr. Mais uma história de boxe, cujo tema já produziu tantos filmes ótimos como O Campeão (Franco Zefirelli, 1931), Touro Indomável (Martin Scorsese, 1980), Menina de Ouro (Clint Eastwood, 2004) e a franquia Rocky (Sylvester Stallone). Apesar da dificuldade de se destacar em meio de tantas obras-primas, Alvarenga consegue fazer o melhor filme de sua carreira até aqui.
A trama conta a história real de Éder Jofre (Daniel de Oliveira) - considerado o melhor boxeador brasileiro de todos os tempos - desde sua infância, filho do lutador Kid Jofre (Osmar Prado) até tornar-se campeão mundial peso pena - em 1966 - e peso galo em 1973. O filme tem início com o menino Éder vendo seu tio Ralph Zumbano (Ricardo Gelli) - um dos melhores lutadores da categoria Peso Leve de todos os tempos e posteriormente descobridor e técnico de Adílson Maguila Rodrigues - prestes a decolar uma carreira internacional, mas seu comportamento boêmio o atrapalha. Percebendo o sonho de seu pai em ter um campeão na família, decide iniciar os treinos no esporte paralelamente aos estudos de arquitetura. Workaholic - numa época em que ainda não existia essa expressão - Kid Jofre passa a exigir uma dedicação cada vez maior de seu filho até que a carreira esteja acima de tudo, até de sua saúde e vida pessoal.
Mesclando lutas extremamente bem filmadas - sob a belíssima fotografia do renomado Lula Carvalho (Robocop, 2014) - com imagens reais das lutas, em preto e branco, o filme consegue contar a história com muita eficiência, e em vez das imagens distanciarem o público da trama, serve mais como homenagem ao atleta. O roteiro de Thomas Stavros (Polícia Federal - A Lei é Para Todos, 2017) encontra belas sacadas para mostrar a aproximação entre o biografado e sua mulher Cida (Keli Freitas), muito bem dirigidas por Alvarenga. Talvez o único excesso é a cena clichê onde ambos brincam num parque de diversões.
Apesar de ser um dos maiores atores do país - e notadamente ter se preparado fisicamente para estar com a musculatura de um lutador -, o protagonista Daniel de Oliveira está aquém de interpretações anteriores, como em Cazuza - O Tempo não Para (Sandra Werneck e Walter Carvalho, 2004). Tem seus momentos de brilho, mas no geral está no "piloto automático". O mesmo pode-se dizer de Osmar Prado (Olga, 2004), que está num tom excessivamente teatral, como ser tivesse feito cada cena pensando em cada trejeito e visando algum prêmio que viesse a ganhar, o que, de fato aconteceu no Festival de Gramado.
É nos personagens secundários que o diretor consegue resultados bem melhores, extraindo belas interpretações, com destaque para Sandra Corveloni (Linha de Passe, 2008).
No filme, é notório o descontentamento de Éder Jofre com o comportamento do povo brasileiro ao ser rapidamente esquecido após seu primeiro título mundial, o que o fez decidir ganhar o segundo campeonato. O trabalho de Alvarenga é uma justíssima homenagem a um dos melhores atletas que o país já teve. E que bom que o biografado - do alto de seus 82 anos - tenha conseguido assistir à história de sua vida, de forma tão digna e bem acabada, sendo contada às novas gerações.
Com uma reconstituição de época impecável sob a direção de arte de Cláudio Domingos (Cilada.com, 2011), 10 Segundos para Vencer é - além de uma grande homenagem - um grande filme. Uma bela história, bem contada, bem interpretada e muito emocionante. Foi curioso perceber - na pré-estreia carioca - que em determinados momentos o público, se emociona, vibra e até mesmo aplaude. Um filme para ser visto em tela grande!