Cinema contundente e atual
O cinema nacional sempre viveu de ondas. Basta um filme fazer sucesso que rapidamente surgem muitas versões genéricas. Por consequência, é criticado como se o gênero em voga no momento fosse o único feito em todo o país. E por mais absurdo que pareça, as críticas vem exatamente de quem não o assiste e apenas repete frases feitas, sem a mínima base no que diz. Após muitos anos em que se dizia que "filme brasileiro é só palavrão e putaria" e mais recentemente "no Brasil só tem filme de favela", veio a nova moda: "só se faz comédia Globo Filmes", como se a distribuidora fosse produtora, como se ela só distribuísse comédias e todos os filmes do gênero fossem dela. Como dito acima, coisas repetidas por gente que não faz ideia do que acontece com nosso cinema e do quão diversificado ele é.
Como de tempos em tempos surge alguém para quebrar paradigmas e lançar novos horizontes, eis que surge Danilo Gentili (Como se tornar o pior aluno da escola, 2017). O andreense que fez carreira como humorista de stand up comedy e alcançou notoriedade como apresentador de TV mostra que pode ir muito mais longe e apresentar um roteiro contundente como no filme Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro.
Além de resgatar o gênero terrir - foi inventado pelo cineasta Ivan Cardoso (As Sete Vampiras, 1986) na década de 80 - o filme extrapola qualquer limite de tabu ou escatologia sem nenhum tipo de freio. Como diz Gentili: "Eu gosto de fazer os filmes que eu gostaria de assistir".
A história fala sobre um grupo de charlatães formado por Jack (Gentili), Fred (Léo Lins), Túlio (Murilo Couto) e Caroline (Dani Calabresa) que tentam fazer sucesso no YouTube com vídeos onde caçam assombrações. Isso os leva a serem contratados pelo diretor do colégio Isaac Newton - interpretado pelo apresentador Sikêra Júnior - para acabarem com a assombração da Loira do Banheiro, que matou o aluno Renato (Jean Paulo Campos). Eles passarão uma noite na escola junto com a professora Helena (Bárbara Bruno), o aluno Daniel (Matheus Ueta), o segurança Conan (Digão Ribeiro), o professor Ricardo (Antonio Tabet) e a professora Renata (Marcela Tavares).
Dirigido por Fabrício Bittar (Como se tornar o pior aluno da escola, 2017), Os Exterminadores e a Loira do Banheiro é um marco na filmografia nacional. Há muito tempo não se faz um filme tão contundente e ao mesmo tempo popular no país. O diretor consegue conciliar humor, terror e violência de forma magistral. Encontra a dificílima linha entre um e outro sem se perder e ainda utiliza de eficazes efeitos especiais e animações nos momentos certos.
Após ser criticado pelo filme anterior conter piada com pedofilia e escatologia, Gentili continua brincando com o tema e leva a escatologia a níveis nunca pensados por essas terras. Além disso, consegue fazer citações de filmes como Os Caça-Fantasmas (Ivan Reitman, 1984), Brinquedo Assassino (Tom Holland, 1988) e Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio (Sam Raimi, 1981).
Com produção caprichada e belos efeitos, o filme ainda conta com a impecável direção de fotografia do estreante em longas Marcos Ribas e a excelente direção de arte de Glauce Queiroz (Como se tornar o pior aluno da escola, 2017), o que é mais um mérito de Bittar e Gentili - também produtor do filme -, que apostam em novos nomes em duas das funções mais importantes de um filme.
Com elenco formado em grande parte por humoristas e apresentadores, em determinados momentos a dramaticidade deixa um pouco a desejar, apesar de ter a experiente - e estreante em longas - Bárbara Bruno e os excelentes Murilo Couto e Dani Calabresa - que provavelmente por terem formação teatral, roubam as cenas em que participam. Porém, o que falta em dramaticidade, sobre em capacidade de criação de humor ácido e contemporâneo.
Infelizmente, a sessão para a imprensa não estava com som em 5.1 e talvez por isso, optaram por exibir o som em estéreo em altíssimo volume, o que prejudicou a apreciação. Certamente não é um filme para todos os públicos, mas para quem gosta de cinema e não tem o mimimi do politicamente correto de hoje em dia, é uma grande pedida. Certamente, o êxito - merecido - nas bilheterias abrirá campo para que outras produções mais ousadas e originais sigam essa linha. Aí sim, pode ser benéfico o fato de nosso cinema seguir ondas, como dito no início do texto.