A vida de um gênio da pintura numa interpretação genial
Lançar uma obra cinematográfica sobre um gênio da humanidade é sempre uma tarefa difícil, ainda mais quando o biografado já teve vários filmes a seu respeito. E este é o caso do pintor holandês Vincent van Gogh (1853 - 1890).
Dirigido pelo também artista visual Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta, 2008), No Portal da Eternidade faz um recorte do período em que o intrigante artista vai até Arles, ao Sul da França, até sua mal explicada morte.
O filme tem um elenco extremamente assertivo, com Oscar Isaac no papel de Paul Gauguin - um dos únicos artistas plásticos a suportarem o gênio forte do biografado - que interpreta com maestria a ponto de a diferença de idade entre os atores tornar-se praticamente imperceptível. No papel de Theo van Gogh - o marchand irmão de Vincent que o sustentou durante anos - está o ator Rupert Friend (Teorema Zero, 2014). E para completar, o excelente Mads Mikkelsen (A Caça, 2013) numa participação especialíssima como padre.
Mas é no protagonista que está a maior virtude de No Portal da Eternidade: Willen Dafoe (A Culpa é das Estrelas, 2014). O ator interpreta Van Gogh de maneira magistral. Não só ficou idêntico fisicamente ao artista como consegue transmitir sua angústia apenas com o olhar. É daquelas interpretações que soam quase como definitivas sobre uma personalidade. Sua interpretação vai do mais doce comportamento até a fúria completa sem deixar a verosimilhança em nenhum momento. Ouso dizer que ninguém captou mais a alma atormentada do artista do que Dafoe.
Outro grande acerto do filme é a direção de fotografia de Benoît Delhomme (A Teoria de Tudo, 2014). Em vez de tentar fazer uma luz que emulasse as pinturas do artista holandês, utiliza a fotografia para transmitir a amargura de Van Gogh. Schnabel ainda tem a grande sacada de iniciar o filme mostrando uma plantação dos famosos girassóis de Van Gogh toda seca no inverno.
A morte de Van Gogh - oficialmente como sendo um suicídio no campo - é mostrada como um homicídio em que ele retira toda a culpa dos assassinos.
A magistral performance de Willen Dafoe merecidamente recebeu o reconhecimento com indicação ao prêmio de melhor ator no Oscar 2019.
Talvez o diretor tenha encarado a árdua tarefa de fazer um filme tão difícil com a mesma urgência e necessidade vital que Van Gogh sentiu ao decepar a própria orelha. É daqueles filmes imperdíveis, pois, mesmo que não tivesse outras virtudes - o que não é o caso - só a interpretação magistral de Dafoe já vale o ingresso.