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A MULA (The Mule)


Tema sério,

mas com leveza e bom humor politicamente incorreto


Quando se atinge a marca de 42 filmes como diretor e 70 como ator, há que se respeitar. Quando soma-se a isso a sólida e respeitada carreira de Clint Eastwood, então, é digno de aplausos.

Na carreira de diretor, grandes filmes como Sniper Americano (2015), Menina de Ouro (2004) - em que também atua - e Bird (1987). Como ator, As Pontes de Madison (1995) - que também assina a direção -, Alcatraz - Fuga Impossível (Don Siegel, 1979) e a obra-prima Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966).

Mesmo tendo limitações como ator, Eastwood fez alguns dos melhores filmes da história, e agora que chega aos seus 88 anos lança A Mula, que talvez seja seu último filme atuando e dirigindo. Esperemos que não, afinal, poucas vezes conseguiu conciliar tão bem as duas funções.


A trama conta a história de Earl Stone (Clint Eastwood), um velhinho floriculturista que tem seu negócio arruinado como advento das vendas pela internet. Sem ter como sobreviver e despejado de casa, aceita um convite para transportar algo misterioso - obviamente algum tipo de droga - que lhe rende um bom dinheiro. Ao perceber a boa lucratividade, acaba fazendo um segundo transporte, e mais outro, e outro. Sua aparência e o cuidado na estrada - que lhe orgulha por nunca ter recebido nenhuma multa - o torna a "mula" (como são chamadas as pessoas que transportam droga) ideal para o cartel mexicano. Com o tempo, as toneladas que traficadas chamam a atenção dos policiais Colin Bates (Bradley Cooper) e Treviño (Michael Peña).


O roteiro de Nick Schenk (Gran Torino, 2009) é baseado numa história real de Leo Sharp e não alivia o peso do protagonista, que mostra-se um marido e pai relapso, mais preocupado com seu trabalho do que com a família. E conforme o velhinho deixa-se seduzir pelo dinheiro, passa a gastar com prostitutas e coisas supérfluas, como a reforma de um bar que frequenta. Ainda assim, o carisma do protagonista torna impossível não se afeiçoar e torcer por ele. Sua personalidade de bon vivant somada ao seu humor politicamente incorreto de uma época em que isso não existia - inclusive o personagem diz "nunca tive filtro" - são irresistíveis.


O elenco é digno de alguém com sua trajetória. Traz Laurence Fishburne (Homem-Formiga e a Vespa, 2018), Dianne Wiest (Irmãs, 2016) e sua filha na vida real interpretando-se na ficção: Alison Eastwood (Luta Pela Liberdade, 2010). Mas o grande destaque fica por conta de Andy Garcia (O Poderoso Chefão 3, 1990), que interpreta o chefe do tráfico Laton de forma impressionante. Sua origem latina e seu talento o fazem encarná--lo como dificilmente outro faria tão bem. É quase impossível não rir na cena em que é questionado sobre quem é preciso matar para ter uma mansão igual à sua e prontamente responde: "Muitas!".


As quase duas horas de película passam voando, graças ao bom roteiro, belas atuações e sacadas divertidas do protagonista. Um filme que vale muito o ingresso, além de uma grande obra, uma forma de homenagear um dos maiores artistas que o cinema já produziu.

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