Qualquer semelhança com a realidade
não é mera coincidência.
Por mais que possa haver diversidade de costumes, idiomas, tradições e história, há questões globais que assolam a humanidade. Corrupção e conchavo no ambiente político e de negócios, por exemplo, são mazelas comuns à todas as nações. Este é o tema central de O Rei de Roma.
Numa Tempesta (Marco Giallini) é um empresário poderoso e bem sucedido que realiza negócios de maneira escusa. Justo no momento em que está para fazer um ambicioso negócio, é condenado por envolvimento com corrupção e deve cumprir um ano de serviços sociais num abrigo para moradores de rua. Lá conhece Angeta (Eleonora Danco), a diretora da instituição. Figura ética e moralista, que age de maneira enérgica com ele. Lá também conhece Bruno (Elio Germano), um astuto e simpático malandro.
De início, por força do hábito, Numa trata a todos de maneira arrogante, mas descobre que são os moradores do abrigo que irão avaliar seu comportamento e a eficácia da pena alternativa, e com a ajuda de Bruno, ganha a simpatia e amizade de todos. Exatamente o que precisava para cumprir sua pena e retomar seus negócios, porém, agora com inusitados e divertidos parceiros.
Assim, o diretor Daniele Luchetti (Meu irmão é filho único, 2007), que é também um dos roteiristas do filme, emprega a comédia para abordar temas que atormentam a humanidade: a corrupção e o conchavo no ambiente político e de negócios, e com suposta despretensão, provoca reflexões ao abordar questões sociais como falta de emprego e moradia.
Numa, o protagonista, é um sujeito sedutor, envolvente e galanteador, ao passo que também é egocêntrico, pragmático, prepotente e um tanto quanto arrogante, como fica evidente no modo como trata a seus subordinados, como os ignora e como exercita seu egocentrismo.
Diante de uma sentença que estabelece que deva cumprir serviços sociais, e à medida que se relaciona e convive com pessoas em situação de miséria, supõe-se que vá sofrer um processo de humanização, que ficará sensibilizado e mudará sua personalidade e modo de ser, como é o lugar comum em outras produções. Ledo engano, o que se vê é que, ao contrário do que tudo indica, com humor e sarcasmo todos os demais personagens é que são infectados pelo vírus da ganância, o que resulta em situações hilárias.
Uma questão de fundo é introduzida para pontuar a fragilidade que angustia o protagonista e contrapor seu indefectível modo de ser: um pai que o maltratava e o discriminava, a quem nunca mais havia visto. Neste ponto, chama a atenção a "dualidade" das profissionais que o ajudavam a compreender os dilemas de seu âmago, colocando questão subliminar aos limites da psicoterapia.
Luchetti, conduz a trama com leveza e agilidade, extraindo uma atuação robusta e convincente de Marco Giallini e com agradável desempenho de Elio Germano.
Numa Tempesta, o Rei de Roma, segue então sua hábil vocação para os negócios, através de seu modus operandi - até então infalível - e com sagacidade dá continuidade a seus planos. Desta vez, porém, com um desfecho que todos gostariam de ver.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.