
Cine-Literatura
“Pensar com as mãos, eis a real condição humana”. Assim falou, Jean-Luc Godard (Adeus à Linguagem, 2015), em seu mais recente filme. Ou, em se tratando de Godard, seria mais adequado referirmo-nos a Imagem e Palavra, como um ensaio filosófico-literário em forma de filme?

Em primeiro lugar, o filme em questão, trata-se de uma autêntica aula de história, sobretudo acerca da história do cinema, desde sua fundação em 1895 até os dias atuais.
Aliás, a fórmula do “anti-cinema” que Godard vinha desenvolvendo, já desde meados dos anos 70 pelo menos, evoluiu pra algo ainda mais experimental, próximo à linguagem da videoarte, visto que aqui nem mesmo se filmou nada de fato para a realização dessa obra godardiana que é totalmente composta de colagens de imagens pré-selecionadas pelo diretor, acompanhadas por uma narração que percorre praticamente todo o filme, a cargo do próprio cineasta.

O velho mestre oriundo da nouvelle vague (movimento francês iniciado em 1958 que buscava um cinema mais autoral e barato) mostra-se extremamente “antenado” em relação às novas tecnologias, pois há várias sequências filmadas por um telefone celular. E, além disso, é evidente que o filme passou por um trabalho de pós-produção digital que visava deixar tudo com cores extremamente saturadas, conferindo às imagens, aliás, um aspecto de pinturas.

Em resumo, Imagen e Palavra trata-se de uma profunda reflexão godardiana a respeito dos rumos atuais da humanidade, evidentemente permeado por intolerância (religiosa, étnica, política, etc.), mediocridade e radicalismos de todo o tipo.
Porém, ao contrário do que possa parecer, no fundo, a visão de mundo de monsieur Godard, não é de fato tão pessimista e desesperançada, afinal, ele encerra o filme justamente com a seguinte proposição: “A esperança será sempre uma utopia viável”.