Um drama comovente na cidade luz
Em qualquer produção cinematográfica, as crianças sempre são uma faca de dois gumes: podem roubar a cena ou colocarem tudo a perder. O filme Amanda mostra que a máxima continua valendo. Tendo o personagem-título interpretado pela estreante atriz mirim Isaure Multrier, encontra na garotinha de menos de dez anos de idade a força como poucas vezes se viu em atores tão jovens na história do cinema.
Amanda conta a história de David (Vincent Lacoste), um jovem de vinte e poucos anos que vive de administrar locações de apartamentos a turistas em troca de moradia na cidade de Paris. Dessa forma conhece a belíssima Léna (Stacy Martin), uma pianista que chega à Cidade Luz e imediatamente surge uma tensão sexual entre ambos. Muito apegado à sua irmã, a professora de inglês Sandrine (Ophélia Kolb), combina com ela e sua pretendente um piquenique no parque. Um imprevisto acaba fazendo com que se atrase e ao chegar no local sua irmã está morta e Léna ferida num ataque terrorista. É aí que entra Amanda, sua sobrinha de menos de dez anos e que fica órfã. Inseguro e sem a menor pretensão de arrumar tamanha responsabilidade, o rapaz precisa decidir se adota a menina - seu único elo de ligação com sua irmã -, se a deixa com sua tia ou mesmo num colégio interno.
Tendo como cenário a cidade mais visitada do mundo, Amanda toca num tema contemporâneo que é o medo do terrorismo na capital francesa, onde não se pode nem entrar numa escola sem ser revistado, mas sabiamente o diretor Mikhaël Hers (Aquele Sentimento de Verão, 2016) - que também assina o roteiro - evita a espetacularização da tragédia. Também evita "carregar na tinta" ao apresentar um drama e não deixar-se seduzir pelo caminho mais fácil, que seria o melodrama. Consegue extrair atuações contidas e convincentes de todo o elenco.
O roteiro é delicado, sutil, com belos diálogos, mas ao mesmo tempo contemplativo, de certa forma, uma vez que as interpretações conseguem transmitir o sentimento dos personagens mais nos silêncios do que nas falas. Este é outro mérito de Hers.
Amanda chega a lembrar - muito, mas muito vagamente - o clássico Kramer x Kramer (Robert Benton, 1979), e aí é mais um ponto positivo do roteiro, que não se deixou levar pelo caminho fácil, que seria o de seguir os mesmos passos do filme americano.
Sem dúvidas, o maior acerto do filme foi a descoberta da atriz mirim Isaure Multrier, que consegue transmitir toda a dor, ansiedade e incertezas de seu personagem apenas com seu olhar e algumas lágrimas. É uma atuação comovente e certamente vai arrancar muitos lenços do público mais sensível.
Uma boa pedida aos afeitos a dramas familiares com a curiosidade de apresentá-lo numa cidade sempre associada à felicidade e ao romantismo. Prepare seu lenço e bom filme.