Beleza Calculada
É, realmente a China contemporânea mostra a que veio, se valendo de todo o seu poderio econômico pra lançar internacionalmente um filme de 2 horas e 18 minutos de duração, filmado - ao menos em parte - em 3D.
É inegável que, ao menos em termos técnicos, o filme é mesmo um deleite para os nossos olhos, com belíssima fotografia e planos longos conduzidos por movimentos de câmera discretos e precisos.
A trama, por outro lado, é bastante vaga e até mesmo irrelevante dentro dessa proposta do diretor estreante Bi Gan (Kaili Blues, ainda inédito), um quase Wong Kar-Wai (O Grande Mestre, 2014), só pra citar um conterrâneo seu, bem mais conhecido aqui no ocidente.
No entanto, embora Longa Jornada Noite Adentro chegue a se assemelhar - sobretudo em termos estéticos - a 2046 - Os Segredos do Amor, dirigido por Kar-Wai, o fato é que Gan não possui o mesmo brilho e originalidade. Seu trabalho, embora bonito e bem realizado, é tão vazio em termos de conteúdo e fluência narrativa que não se sustenta ao longo de suas mais de duas horas de duração, sem cansar o espectador, apesar da beleza de suas imagens.
Particularmente, chego até a achar um tanto desnecessário o uso do recurso 3D num filme extremamente contemplativo, ou seja, do tipo que não visa impressionar o espectador por meio de batalhas grandiosas ou coisa do gênero. Portanto, se a ideia aqui era gerar a "imersão" do público nessa jornada, acho que o diretor errou ao apostar que seu arremedo de trama, confusa e às vezes até cansativa, se sustentaria apenas pela beleza de suas imagens.
Combinar uma linguagem típica de cinema de autor (planos longos - quase sequência -, silêncio como elemento narrativo, etc) com inovações tecnológicas de última geração é válido enquanto tentativa de uma proposta inovadora, mas o resultado está longe da perfeição aparentemente almejada.