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MAYA  (idem)



Etnocentrismo ainda em voga


Em Maya, de Mia Hansen-Love (O Que Está Por Vir, 2016), vemos apenas um filme bem realizado, mas quase nada além disso. Seja pelo fato de que não apresenta qualquer tipo de inovação narrativa ou mesmo técnica, como também por não ser capaz de abandonar a aparentemente eterna visão (ao menos do ponto de vista europeu) condicionada pelo etnocentrismo.


Afinal, tanto na forma como se utiliza a Índia como pano de fundo para boa parte da trama - explorando suas belas paisagens como uma espécie de "cartão de visitas" para turistas -, como também no destino reservado à jovem protagonista vivida pela estreante Aarshi Banerjee, a ideia de que a Índia (ou talvez o terceiro mundo em geral) deve se prestar à função de cultura exótica a ser explorada (em todos os sentidos) parece estar implícita.


Na figura e também nas atitudes do co-protagonista, vivido pelo ator francês Roman Kolinka (Depois de Maio, 2013), impõe-se claramente a ideia de superioridade cultural europeia, pois é como se o simples fato de que o jornalista - vivido pelo ator citado - ter sofrido traumas de guerra ao ter sido refém de terroristas islâmicos por um longo período, justifica-se, ou ao menos amenizasse a postura claramente canalha que ele teve em relação à jovem (menor, aliás) Maya.

A essa altura, seria até o caso de nos perguntarmos se pelo fato de o filme ser dirigido por uma mulher (a também atriz Mia Hansen-Love), haveria em algum momento a intenção de classificar a já citada atitude do co-protagonista da trama como machista?


Particularmente, me parece que não houve essa intenção, o que por um lado é louvável no sentido de não estimular uma visão maniqueísta dos fatos, porém, o que realmente parece neste caso específico é que a ausência de julgamento moral em relação ao jornalista foi na verdade motivada por uma visão etnocêntrica de mundo, na qual o famoso mote francês do "liberdade, igualdade e fraternidade" não parece extensivo àqueles que não vivem sob sua bandeira.


Em termos gerais, descontada a beleza das imagens apresentadas durante toda a parte da trama que ocorre em território indiano, como também a exótica e bela trilha-sonora, no mais, Maya realmente não cativa.


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