Universo em desencanto
"Professor, você é socialista? Pois os socialistas sempre se propõem a auxiliar os mais fracos, mesmo quando eles não querem"...
Tal frase dita por uma aluna do colégio destinado "apenas aos mais brilhantes alunos da França" serve perfeitamente pra ilustrar a fina ironia que irá permear todo o filme O Professor Substituto.
Luta de classes, crise existencial adolescente, questões ambientais, falta de esperança em relação ao futuro da humanidade sendo utilizada como pretexto pra justificar uma violência quase que inexplicável, etc. Estes são apenas alguns dos pontos levantados e abordados no filme, dirigido pelo estreante Sébastien Marnier.
O professor do título, vivido por Laurent Lafitte (A Revolução em Paris, 2019), após ser admitido como substituto no referido colégio, enfrenta logo de início a não-aceitação por parte de seus extremamente arrogantes e endinheirados novos alunos.
Uma série de incoerências no comportamento de tais alunos revela-se na forma como eles, logo mais, se mostrarem preocupados com questões de caráter social e ambiental, e logo em seguida, esnobam seus colegas de colégio menos privilegiados, tanto economicamente quanto intelectualmente, de forma extremamente sarcástica.
Apesar da inegável relevância da variada gama de temas que aborda, O Professor Substituto perde sua força em determinados momentos devido à visível pouca experiência do diretor na condução narrativa da trama, que muitas vezes acaba se perdendo ou se tornando um pouco tediosa, em meio a algumas sequências desnecessárias e mal-explicadas.
Porém, quando acerta o alvo, o diretor/roteirista nos brinda com uma assombrosa, porém interessantíssima, leitura acerca do comportamento dos adolescentes contemporâneos perdidos em meio a uma série de dúvidas, algumas presentes no cotidiano de qualquer adolescente padrão, outras bem particulares, do tipo que só podem fazer parte do universo característico de jovens com um padrão de inteligência e cultura bem acima da média.
Inteligência e cultura estas que, aliás, parecem ser muito mais uma maldição do que uma benção, pois inevitavelmente acaba os conduzindo à angústia, incompreensão e desfecho trágico.
É, Dostoiévski estava mesmo certo ao afirmar ironicamente em Memórias do Subsolo que inteligência demais, na maioria das vezes, causa muito mais problemas e angústia do que a ignorância absoluta...