Vanguarda envelhecida
Em certos momentos de Abaixo A Gravidade, do veterano Edgard Navarro (Eu Me Lembro, 2005), vemos alguns dos piores cacoetes muitas vezes associados aquilo que o pretenso "cinema de autor" já produziu. Tais como a opção (desnecessária nesse caso) pela narrativa não-linear, associada à ausência de uma trama propriamente dita.
Salvo o inegável talento e carisma do protagonista "Bené", vivido por Everaldo Pontes (O Nó do Diabo, 2017) e a beleza de sua parceira de cena "Letícia", vivida por Rita Carelli (Antes O Tempo Não Acabava, 2016), pouca coisa de fato se destaca no filme, que é repleto de pequenas tramas paralelas sempre mal-costuradas e mal concluídas.
O clima de realismo fantástico que permeia praticamente toda a trama (ou subtrama) é, assim como ocorre em 99% da produção autoral brasileira em qualquer período histórico, alternado com diversas situações que refletem sobre questões de caráter social, mas sempre recorrendo a grandes clichês, como por exemplo no caso do morador de rua louco, vivido por Ramon Vane (O Homem que Não Dormia, 2011).
Absolutamente nada de minha parte contra o autêntico cinema de autor, mas desde que a opção pelo experimentalismo e ausência de linearidade seja equilibrado por um mínimo de fluência narrativa e personagens interessantes, e não estereótipos aos quais estamos cansados de ver.
Abaixo A Gravidade até apresenta alguns belos momentos em termos visuais quando assume sua veia mais experimental sem se preocupar em ser desnecessariamente engajado em relação às mazelas sociais brasileiras, até porque não há aprofundamento e clareza na crítica que se propõe a fazer, o que resulta em situações e personagens sempre muito, mas muito mesmo, estereotipados.
O saldo geral é decepcionante, deixando a sensação de que muita coisa aqui poderia ser melhor desenvolvida e, portanto, melhor aproveitada.