
A eternamente frágil liberdade abaixo da linha do Equador
Em Vermelho Sol, o diretor argentino Benjamin Naishtat (Bem Perto de Buenos Aires, 2015), traça um interessante painel acerca do eterno fantasma do totalitarismo que parece rondar não só a Argentina, mas toda a América Latina.

Por meio de uma situação tragicômica vivida certo dia pelo advogado Claudio (Dario Grandinetti) quando, acidentalmente, acaba matando um indivíduo após uma aparentemente inocente discussão num restaurante; Vermelho Sol acaba nos revelando a gênese do totalitarismo político e, claro, da consequente eterna e absoluta vigilância sob à qual todo indivíduo está sujeito em tal sistema.
Do ponto de vista técnico, o filme também apresenta uma série de méritos, tais como o belo trabalho de reconstituição de época (visto que a trama é ambientada nos anos 70) e também a linda fotografia que, por meio de cores quentes e tons amarelados, reforça tanto a evidente estética de época quanto, metaforicamente, também o "calor", isto é, a tensão frequente vivida pelo protagonista.

Em termos narrativos, porém, o filme às vezes se torna um pouco cansativo ao se prolongar em algumas situações talvez desnecessárias, comprometendo assim seu ritmo que poderia ser perfeito.

Destaque absoluto para o detetive particular e, nas entrelinhas, ex-torturador vivido pelo experiente e carismático ator chileno Alfredo Castro (Tony Manero, 2008), ele próprio uma espécie de "Al Pacino latino-americano".
Em termos gerais, Vermelho Sol representa mesmo um importante retrato (mesmo que fictício) desta eterna e aparentemente inevitável tendência do universo latino-americano às ditaduras (sejam elas de direita ou esquerda). Tendência esta, cada dia mais viva e com energia renovada, revelando a fragilidade congênita de nossas democracias.