Uma bela despedida de Bruno Ganz
O tão explorado e desgastado - bem como fascinante - tema da Segunda Guerra Mundial ganha uma nova obra pelas mãos do diretor e roteirista austríaco Nikolaus Leytner, o filme A Tabacaria.
Partindo de uma bela premissa - a partir do romance de Robert Seethaler - A Tabacaria é uma ficção calcada em fatos históricos, além da já citada guerra e ascensão do nazismo, aproveita-se - no bom sentido - do fato do célebre psicanalista Sigmund Freud (1856 - 1939) ter fugido de Viena para Londres por conta de sua origem judaica.
Na trama, o jovem Franz (Simon Morzé) vive no interior da Áustria com seus pais em meados da década de 30. Após uma fogosa relação sexual de sua mãe com um homem - que não fica claro se é seu pai ou apenas um amante - encostados numa árvore, o homem vai se banhar no rio e é morto por um raio. Com isso, o jovem é forçado a vida no campo e tentar um futuro melhor na capital. Chegando lá, vai trabalhar numa tabacaria, onde começa a aprender a se relacionar com as pessoas e a ter suas primeiras paixões platônicas. Dentre os compradores de charuto, o jovem descobre que um deles é o famoso psicanalista Sigmund Freud (Bruno Ganz), e logo passa a cativar sua amizade em busca de conselhos amorosos, já que não tem segurança suficiente para conquistar uma mulher. O principal alvo amoroso do jovem é Anezka (Emma Drogunova), com quem aprenderá o sofrimento de ter como primeiro amor uma mulher de cabaré. Lentamente, percebe a ascensão do nazismo através das mudanças nos costumes dos moradores do bairro, que passam a citar Heil Hitler com frequência, usar a suástica nazista no braço e ficarem cada vez mais intolerantes.
O elenco, encabeçado por Morzé e o sensacional Ganz - em um de seus últimos trabalhos, cuja morte aconteceu em fevereiro passado -, é muito competente e dá conta da pesada trama com tranquilidade. O grande problema do filme está em seu terceiro ato, uma vez que parte de uma interessante premissa, é bem desenvolvido, mas o roteiro assinado pelo diretor em parceria com Klaus Richter não tem um desfecho à altura. Como diz o mestre dos métodos de roteiros Robert McKee: "90% do trabalho do roteirista é escrever um bom desfecho", o que, infelizmente, não é o caso.
Com uma excelente direção de arte e reconstituição de época, A Tabacaria tem uma bela produção, mas o destaque é da excelente trilha-sonora de Matthias Weber, que é dramática sem cair no melodrama.
Entre erros e acertos, é uma boa oportunidade de acompanhar uma boa história, com boa produção, e principalmente, ver uma das últimas atuações de Bruno Ganz.