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PROJETO GEMINI (Gemini Man)


Ang Lee versus Jerry Bruckheimer


Projeto Gemini é uma produção do mão pesada Jerry Bruckheimer que, entre outros espetáculos barulhentos, produziu a interminável saga dos Piratas do Caribe. Sabendo disso, esperamos um Tsunami de clichês de ação, tiros, explosões, perseguições, trocas de bofetes para deixar o espectador tonto e com os ouvidos zumbindo. Mas, nesse filme existe um detalhe que desequilibra a fórmula exagerada do produtor: o diretor Ang Lee, que já entregou verdadeiras joias como O Segredo de Brokeback Moutain (Brokeback Mountain, 2005) e As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012).


Em O Tigre e o Dragão (Wo Hu Cang Long 2000), ele introduziu a moda do balé de lutas marciais através de ensaiadas coreografias onde atores desafiam a lógica e a gravidade presos por cabos que podem ser apagados digitalmente. Lee sabe como ninguém orquestrar cenas que envolvem apelo visual com uso inteligente de cenários virtuais e, com certeza, foi por isso que foi chamado para este filme. Portanto temos um Tsunami de clichês de ação, tiros, explosões, perseguições e trocas de bofetes lindamente coreografadas pelo imenso talento de Ang Lee que dirige o esforçado e carismático Will Smith (Alladin, 2019).


E Will é Henry Brogan, o melhor agente de uma agência secreta do governo que está sendo perseguido por um assassino que quer eliminá-lo a qualquer custo e parece saber de antemão todos os seus pensamentos e decisões para escapar. E, para seu horror, descobre que colocaram em seu encalço um clone que é cerca de 30 anos mais jovem do que ele. A intenção é queima de arquivo e substituí-lo por considerá-lo ultrapassado e menos confiável por ter passado dos 50 anos e estar querendo se aposentar por não confiar mais em suas habilidades. A premissa é interessante quando se olha como uma metáfora da crise de meia idade. Todo mundo, mais cedo ou mais tarde, vai ter o momento em que vai questionar toda sua história e ter medo da chegada da idade. Nesse momento todos nós seremos forçados a olhar para trás e encarar a pessoa que fomos um dia e é isso que o protagonista vai fazer. Encarar fisicamente sua cópia que, ao contrário das habituais crises de arrependimento ou culpa das pessoas comuns, vai querer matá-lo.

Como desenvolvimento de roteiro, o filme não apresenta nada de diferente. Há o vilão habitual encarnado por Clive Owen (Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, 2017) que com sua cara de pau, interpreta Clive Owen interpretando um papel. Há também o personagem que muda de lado interpretado pela talentosa Mary Elizabeth Winstead (Rua Cloverfield, 10, 2016) que faz uma agente colocada para vigiar o protagonista e embarca em sua saga. Não há nada de original no filme que nos apresenta uma produção competente que enche os olhos com locações lindas, cenas espetaculares e parece flertar com estilo dos filmes do agente James Bond. Mas o que torna essa produção em algo especial são os detalhes de como foi feita que serão um atrativo a parte.


O filme está lançando o sistema batizado de 3D +. Isto é, foi captado em 4K, 3D e em 120 frames por segundo para ser exibido aqui em 60 frames por segundo. Para terem noção da diferença, um filme normal é captado em 24 fps e com esse aumento do número de frames temos uma imagem cristalina e com grande profundidade de campo. Ang Lee já havia usado tecnologia de ponta em filmes como o cenário e criaturas realizadas por computação gráfica de A Vida de Pi e A Longa Caminhada de Billy Lynn (Billy’s Lynn Long Halftime Walk, 2016 ) onde foi usada essa captação em taxas mais altas de frames para produzir imagem mais nítida. Outro detalhe é a recriação de um Will Smith mais jovem feita totalmente em computação gráfica sem o uso daquela maquiagem digital que parece transformar os atores em criaturas que dormiram dentro de uma piscina de Botox de tão esticados que ficam. O resultado é muito competente na maioria das cenas apesar de notarmos que Ang Lee evita mostrar o Will Smith jovem em plena luz e por muito tempo para justamente não mostrar a natureza digital do personagem.


Vale a pena conferir esse novo passo do cinema em direção a uma nova era do entretenimento onde a idade dos atores não contará mais e sim seus talentos em atuar. Basta não esperar muita coisa do roteiro e encarar as belas cenas de ação orquestradas por Ang Lee como um balé que a diversão vai ser uma certeza. E também, procurar um cinema com uma projeção da melhor qualidade para poder admirar a imagem de altíssima qualidade oferecida pela nova tecnologia.


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