Dora e a oportunidade perdida
Dora e a Cidade Perdida é um “live action” de um famoso seriado produzido pela Nickelodeon Animation Studios que rendeu várias temporadas desde o lançamento em 2000. É Dora, A Aventureira (Dora, the Explorer) uma animação dirigida a crianças de 4 a 8 anos de idade famosa por sua eficácia na proposta de ensinar inglês na versão dublada no Brasil. Além disso estimulava a curiosidade e ensinava as crianças que acompanhavam as aventuras da menina Dora e seu macaco Botas. Histórias simples onde um fato leva a uma viagem e a solução de diversos problemas como obstáculos e enigmas.
Sempre bem-humorada, ela cria canções e dá informações sobre objetos e animais que encontra pelo caminho assim como traduções para seus nomes. O grande diferencial é o fato de que ela se dirige aos espectadores mirins e os convida a solucionar os problemas apresentando os detalhes e as opções a serem escolhidas. Existe um tempo para que os espectadores pensem e consigam chegar a uma resposta que é dada pela personagem. Este modelo tornou este seriado em uma referência com grande respeito no mercado.
E foi lançado este filme que apresenta uma Dora na adolescência, talvez por mirar naquelas crianças que assistiram o seriado e hoje estão na casa dos 14 a 16 anos. Há um pequeno prólogo onde ela ainda menina tem uma última aventura na floresta Amazônica com seu primo que volta para Los Angeles. Passam 10 anos e Dora, interpretada pela vivaz Isabela Moner (Sicário: Dia do Soldado, 2018), está com uns 15 anos e vive ainda ali com sua mãe Elena, interpretada pela agora rechonchuda Eva Longoria, a espevitada Gabrielle Solis do seriado Donas de Casa Desesperadas (Desperate Housewives, ABC TV ), Cole (Michael Peña) e animação nota 8 do macaco Botas. Seus pais são exploradores e, como vão em uma expedição muito perigosa para achar uma cidade perdida, despacham a filha para Los Angeles.
Dora chega na cidade e reencontra seu crescido primo Diego (Jeff Wahlberg) que a introduz ao inferno na terra - o nome que ele dá ao ensino médio - e à fauna da escola do subúrbio onde vivem. E temos a apresentação do nerd Randy (Nicholas Coombe) e a chata Sammy (Madeleine Madden) que, como todos na escola, não aceitam Dora com sua total falta de noção das regras sociais, moda e estilo dos adolescentes de Los Angeles. Dora cumpre uma trajetória onde vai sofrer com as chacotas dos alunos e ver os ecos disso no comportamento de seu primo e os amigos. Não há tempo para desenvolver isso pois logo são sequestrados e levados para a selva onde vão enfrentar terríveis mercenários que querem descobrir onde estão os pais de Dora para roubarem a cidade perdida. Começam os problemas na história e na produção.
James Bobin - que dirigiu Alice Através do Espelho (Alice Trought the Looking Glass, 2016) e Os Muppets (The Muppets, 2011) - erra a mão neste filme. Na segunda fase a direção torna-se histérica e os desafios e enigmas apresentados são jogados de forma rápida e sem tempo para os espectadores assimilarem e raciocinarem junto com os personagens. Este era o maior trunfo do seriado que não se repete aqui, e o roteiro não ajuda com detalhes muito complicados até para adultos.
A ideia é de apresentar o maior número de desafios, cenas de ação e bate bocas possíveis. Isto é, ganhar pela quantidade e não pela qualidade. Não lembra os propósitos do seriado na sua saga educativa e nem se preocupa em usar detalhes corretos envolvendo a ciência e geografia. Uma oportunidade perdida de iniciar uma sequência de filmes de aventura que aliem diversão a cultura. No máximo alguém vai se lembrar daqueles deliciosos filmes dos anos 80 onde garotos procuravam um tesouro de piratas ou o herói de chapelão caçava certa arca perdida.