Engajamento social com verniz
Em A Camareira, longa dirigido pela estreante Lila Aviles, a influência tanto temática quanto estética exercida por outra produção mexicana, no caso o "oscarizado" filme Roma (218), de Alfonso Cuaron, é muito evidente. Porém, a falta de uma maior experiência da diretora, em termos de desenvolvimento narrativo, também mostra-se muito clara. Pois, embora o filme tenha pouco mais de 1 hora e 40 minutos de duração, em determinados momentos ele realmente pesa, a ponto de aparentar ter mais de duas horas.
O carisma da igualmente estreante atriz mexicana Gabriela Cartol ajuda muito a tornar o cotidiano de sua personagem interessante, mesclando doçura, humor e revolta contida em doses corretas.
Merece também destaque a personagem da jovem mãe argentina, vivida pela também estreante Augustina Quinci, que, ao cruzar o caminho da protagonista, por um momento a faz acreditar que ela é especial, mas logo em seguida, a jovem mãe pequeno-burguesa revela-se tão fria em relação à camareira quanto todos os demais hóspedes que por aquele mesmo quarto passaram. Ou seja, o velho discurso de que "os serviçais precisam conhecer o seu lugar", obviamente criticado pelo conjunto do filme, aqui se apresenta de forma explícita.
A diretora - que também assina o roteiro - erra ao apostar no velho recurso pseudo-autoral do uso prolongado do silêncio como elemento narrativo em boa parte da trama. Algo utilizado com maestria, há décadas, por diretores como Michelangelo Antonioni (Blow Up, 1966), por exemplo. Mas, nos dias atuais, converteu-se num irritante clichê usado em demasia por jovens diretores com aspirações "autorais".
Entre erros e acertos, A Camareira tem seu valor por nos brindar com o carisma e talento de uma jovem e promissora atriz, Gabriela Cartol. Mas seria preciso muito mais para que pudéssemos considerá-lo um grande filme, digno de um Oscar de filme estrangeiro, aspiração à qual se destina.