E não é que ainda existem filmes de suspense?
Num contexto contemporâneo em que o cinema, mais do que nunca, parece ter se tornado a arte do puro espetáculo visual e pirotécnico (sobretudo ao pensarmos nas multimilionárias produções voltadas ao universo dos super heróis), a ponto de, por exemplo, o sempre genialmente irônico mestre francês Jean-Luc Godard (Pierrot, Le Fou, 1965) afirmar com todas as letras que "o cinema enquanto arte de contar histórias, está com os dias contados" não deixa de ser, no mínimo, prazeroso saber que ainda há no cinema contemporâneo quem privilegie como ponto de partida um bom roteiro, como no filme Entre Facas e Segredos.
Rian Johnson (Looper - Assassinos do Futuro, 2012), assina - com competência - o roteiro e a direção deste suspense mais do que claramente inspirado na clássica obra Assassinato no Expresso Oriente, da mestra absoluta do gênero Agatha Christie (1890 - 1976).
A trama é bem conduzida, com humor e suspense na medida certa, porém, como quase sempre ocorre em filmes com elenco gigantesco, não é mesmo fácil equilibrar as participações de cada um dos personagens envolvidos, mesmo levando em conta que alguns deles fazem apenas pequeninas e secundárias aparições em cena.
Daniel Craig (007 - Cassino Royale, 2006), a quem coube viver o investigador encarregado de solucionar o caso do assassinato a partir do qual se orienta toda a trama, mais uma vez apresenta seu característico estilo inexpressivo de "atuação genérica" que sempre me incomodou ao ver qualquer filme por ele protagonizado.
Por outro lado, a hipnótica combinação de absurda beleza e talento por parte da atriz cubana Ana de Armas (Blade Runner 2049, 2017), mesclando ingenuidade, sensualidade e sagacidade na medida certa, é mesmo um dos pontos altos de Entre Facas e Segredos.
Apesar de nem sempre acertar totalmente na condução do ritmo das 2 horas e doze minutos que compõem essa elaborada trama, em termos gerais, é ao menos inegável que a tentativa feita por Rian Johnson de nos entregar um suspense à moda antiga é super válida no sentido de provar que ainda há, nos dias de hoje, quem acredite que a base para se construir um bom filme, é sempre um bom roteiro.