O mais do mesmo do "novo" cinema francês
Enquanto países que nunca de fato fizeram parte do principal núcleo de inovação estilística da sétima arte (sobretudo no caso da Coréia do Sul) nos brindam com ótimos e extremamente criativos filmes, tanto em termos narrativos quanto de conteúdos temáticos, tais como Uma Mulher Alta (Rússia, 2019) e Parasita (Coréia do Sul, 2019), a França, antes prodigiosa na produção de filmes que viriam a revolucionar a linguagem cinematográfica nos áureos tempos da Nouvelle Vague, hoje, em boa parte de sua nova produção, nos dá claros sinais de esgotamento temático e também de estilo narrativo.
Infelizmente, Retrato de Uma Jovem em Chamas, dirigido por Celine Sciama (Garotas, 2015), não foge a essa aparente tendência. O longa, embora tecnicamente bem realizado, com um lindo trabalho de direção de arte em termos de reconstituição de época, boa fotografia, etc, por outro lado, em nada inova quanto ao tema abordado e o que pior: nem mesmo na forma como o aborda. O estilo narrativo é extremamente convencional e tedioso, tornando assim difícil manter o espectador empolgado e envolvido com a trama, embora o filme tenha pouco mais de 2 horas de duração.
As atuações pouco inspiradas oferecidas pela dupla de protagonistas vividas por Noemie Merlant (O Retorno do Herói, 2018) e Adele Haenel (A Revolução em Paris, 2019) também não colaboram pra tornar o longa de fato interessante. Quanto ao tema abordado, típico do novo filão representado pelo filmes com temática GLBT, embora apresentado de forma elegante e até singela, não chega a empolgar, pois tem apenas sabor de mais do mesmo em relação a outros filmes que, muito tempo antes, já souberam explorar o tema com muito mais propriedade e sabor de inovação, tais como O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005) ou até mesmo o badalado Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013), só pra citar alguns exemplos.
Talvez o único momento de respiro de Retrato de Uma Jovem em Chamas seja mesmo a sequência em que a dupla de protagonistas decide auxiliar de todas as formas possíveis a jovem empregada vivida por Luana Bajrami (O Professor Substituto, 2019) a praticar um aborto, chegando, inclusive, a incentivá-la a subir e se atirar de cima de uma cadeira. Tal sequência, embora à primeira vista muito pesada, chega a ser tragicômica pela forma como foi executada no filme.
Merece destaque também a pequena mas marcante participação da já veterana atriz italiana Valeria Golino (Caos Calmo, 2008) como mãe da personagem vivida por Adele Haenel. Melhor forma, impossível de provar que quem de fato tem talento rouba a cena mesmo tendo apenas poucos minutos pra demonstrá-lo.
Portanto, o "novo" cinema francês se recupera de sua evidente crise criativa, ou estará fadado a sucumbir diante de novos focos de inovação, tais como a já citada valente Coréia do Sul.