Finalmente assisti Midway e confesso que me decepcionou menos do que eu esperava. O filme não é bom, longe disso. Mas como entrei com a expectativa trancada no fundo do porão do subsolo, até que curti, e está longe de ser um desastre completo também. O trailer havia me desanimado demais e a versão original ainda tem lugar cativo entre os meus dez mais dos filmes de guerra, então encarei quase como uma obrigação pessoal. O que mais incomodou foram as oportunidades perdidas. Poderia ter sido um filmaço. Várias decisões artísticas não ajudam logo de cara.
Roland Emmerich, diretor que até respeito, conseguiu ser mais brega do que de costume aqui e a opção de paleta de cores e fotografia beira o quase vergonhoso. Tudo é esmaecido, nada parece real, nada tem profundidade, tudo parece design vintage de videogame. Quando nem a luz solar de um convés consegue te convencer, desista, nada te convencerá. O excesso de chroma e efeitos incomoda e até mesmo cenas com potenciais explosivos, impossíveis de errar em qualquer seriado televisivo, ficam aquém do esperado.
Ouvi na época do lançamento que se tratava do filme independente mais caro da história, cerca de 100 milhões de dólares, mas nunca fui conferir. Apenas me perguntei como um filme desses, com tanto potencial, teve que ser feito sem nenhum estúdio. Bem, entendi ontem: o roteiro é um espanta-investidor. Se há algo que consigo perceber é quando diretor e roteirista não falam a mesma língua e veem filmes diferentes dentro do mesmo projeto. Emmerich é talhado e especializado em filmes de "ensemble casts", onde ninguém é protagonista absoluto, onde acompanhamos várias tramas, de vários personagens ao mesmo tempo, em um evento onde apenas a ajuda e contribuição de todos podem resolver a trama. A história real da batalha é um prato cheio para isso, bastava entregar algo assim para o cara. Mas o roteiro, sabe-se lá Deus porquê, resolveu focar em um personagem só e a coisa desanda. Dando o benefício da dúvida ao roteirista Wes Tooke - desconhecido completo para mim – talvez dois terços do filme tenham morrido na sala de edição.
Porque nenhuma das tramas paralelas se completa, nenhuma convence, nenhum grande ator tem tempo suficiente de tela para brilhar, e a história acabou recaindo, aí sim, para a grande e irresolvível catástrofe do filme: Ed Skrein, um ator que nasceu para ser o Vilão 2, que morre na Cena 34, de qualquer "Missão Impossível", mas que acaba tendo que carregar a história praticamente toda. Impossível torcer por ele. O papel exigia virilidade, e o sujeito respinga testosterona, mas não dá para acreditar em um personagem que não sabe nem abraçar uma criança direito porque a distância entre um ombro e outro não deixa. O cara parece um filho não reconhecido do Dolph Lundgren com alguma lutadora de MMA. Seu rosto tem ângulos sobre ângulos e se contei umas quatro mudanças de expressão o filme todo foi muito. Isto nem seria problema, afinal Clint Eastwood e Charles Bronson estabeleceram carreiras com apenas duas, mas tinham o bom e velho carisma para segurar a tela. Skrein nem isso.
Para mim é o maior erro de escalação desde George Lazenby como James Bond. No final, sobram as duas divertidas cenas de John Ford filmando o ataque japonês (uma ótima lembrança!), um irreconhecível Dennis Quaid dando dignidade e trazendo realidade sempre que entra em cena, Woody Harrelson fazendo o que pode com os fiapos que lhe sobraram, e a primeira sequência de ataque ao porta-aviões Akagi. A segunda foi mero repeteco, como deve ter sido na vida real também, enfim. De incômodo, incômodo MESMO, apenas o filme ter esquecido por completo do personagem do Aaron Eckhart na China.
O esquecimento é tão grande que eu acho que o ATOR está lá até agora. Fiquei com vontade de mandar um e-mail para a produção lembrando de buscá-lo. Bem, recomendo. Mas só para quem é muito fã de filmes de guerra e sabe a diferença entre um cruzador e um contratorpedeiro. Sim, sou um desses doentes. Se for normal, passe longe.