TODOS OS SONS AO REDOR
por Antônio de Freitas
A primeira pergunta que se faz ao ver o título deste filme é sobre o motivo de serem 32 e não milhões, uma vez que na Terra deveremos ter muito mais do que isso em tipos de emissão sonora. O motivo, após pesquisa, foi descoberto e trata-se de uma menção ao trabalho de Glen Gould, um pianista que criou 32 peças musicais em cima das Variações Gould de Bach que foram homenageadas em 1993 em um filme que, com certeza, mereceu a atenção do diretor do filme em questão: Sam Green (Annea Lockwood/ A film about Listening, 2021). Um diretor de documentários com uma carreira de peso que teve uma de suas obras indicada ao Oscar de Melhor Documentário em 2004, (Tempo de Protesto, 2003).
Analisar e divulgar a multiplicidade das formas de se expressar da humanidade é o que move este cineasta que agora nos apresenta um documentário sobre a importância dos sons na nossa vida. Tenta discutir qual a nossa relação com ele, como nos emociona assim com o captamos. O início do filme é algo belíssimo, com a apresentação do primeiro som que todos os humanos escutam pela primeira vez na vida: o som dos batimentos cardíacos da mãe que chegam até o útero.
Partindo desse poético momento, ele nos conduz por uma odisseia através do tempo passando pelas primeiras teorias do Século XIX, pela invenção do fonógrafo, o rádio, o cinema falado e até pelo fenômeno das discotecas quando nos bombardeiam pesado com os clássicos de Donna Summer (1948 - 2012). Cria, portanto, uma verdadeira experiência sensorial onde o narrador, às vezes, convida o espectador a fechar os olhos para melhor apreciar o som que apresenta nas suas mais diversas formas e fontes.
Uma das partes mais fascinantes do documentário são as cenas com a criadora de efeitos sonoros Joanna Fang (O Homem Invisível, 2020) que demonstra como os estes efeitos são fabricados para filmes. Geralmente não são feitos com computadores, mas pela maneira tradicional, usando artefatos físicos para criar a ilusão de algo acontecendo no filme, seja um animal caminhando, uma pedra se quebrando ou alguém sendo esfaqueado. No final da cena, Fang comenta que o som “fake” muitas vezes soa melhor do que o real.
Quando preciso, a trilha sonora é feita por compositores e artistas sonoros de vanguarda, alguns ainda vivos e em plena atividade, como a grande Annea Lockwood, e outros que já se foram, como Pauline Oliveros (1932-2016), John Cage (1912-1992) e a parceira de Lockwood, Ruth Anderson (1928 – 2019). Representantes de peso de outro universo a ser descoberto pelo espectador que tem a possibilidade de experimentar uma obra que só aumenta e enriquece nossa percepção do mundo.
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