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A CONFERÊNCIA (Die Wannseekonferenz)




FORA GENOCIDAS!


por Vicente Vianna


Vencedor de Melhor Filme no Barcelona-Saint Jordi International Film Festival 2022 e exibido no Festival do Rio em outubro, o filme é baseado em um dos principais documentos do Holocausto, as atas altamente confidenciais da Conferência de Wannsee gravadas por Adolf Eichmann (1906 - 1952), encontradas após o fim da Segunda Guerra.

É um filme sobre a crueldade humana. Necessário, como todo filme em que o assunto é o Holocausto, essa barbárie insana que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, para não nos fazer esquecer o que aconteceu, servir de alerta (sobretudo às novas gerações) e para isso mostra como foi construído esse bizarro pensamento. Tudo com o intuito de nunca mais ser repetido.



Um filme alemão falando de um dos maiores crimes da humanidade, cometido pela Alemanha. Talvez, por pensamentos fascistas ainda passarem pelas cabeças de alguns jovens alemães e também, como vemos no mundo, a questão da imigração sempre teve vários problemas não só na Europa. Agora, em outubro/2022 nos EUA, Nova York declara estado de emergência devido à chegada de milhares de imigrantes numa crise de jogo de empurra entre os Democratas e Republicanos e até aqui no Brasil a invasão de venezuelanos em Roraima. Sobra para os governos estudarem uma forma de dosar a compaixão com os recursos financeiros.


Esse tema tão importante é tratado no filme para nos alertar contra o antissemitismo e o racismo. A Conferência nos faz ver que devemos ficar num estado de vigilância constante para combater essa barbárie que se inicia com a força das palavras.

O filme se passa todo no local da reunião, o que se assemelha ao filme Doze homens e uma sentença (Sidney Lumet, 1957). Neste, uma decisão a ser tomada pelos membros do tribunal do júri que vai determinar se vive ou morre um jovem imigrante acusado do assassinato do pai. Já A Conferência é a administração de uma decisão de Hitler em promover um assassinato em massa dos judeus da Europa. Em ambos os filmes ficamos presos aos diálogos, às discussões, às idéias criativas de convencimento. Só que A Conferência não é uma ficção e ficamos assustados com a forma fria e prática, como em uma reunião de marketing, onde os envolvidos buscam suas ambições de carreira, não em cima de um serviço ou produto, mas no assassinato em massa de milhões de pessoas. A logística é bizarra. É preciso estar destituído de qualquer sentimento humano. E os alemães estavam e se sentiam importantes em fazerem parte deste período histórico do mundo. Não tem como não lembrar de A Lista de Schindler (Steven Spielberg, 1993), onde vemos o comandante Amon Goeth que está na reunião de A Conferência junto com outras autoridades da época. Ele, por deter o poder sobre o gueto de Cracóvia, treinando pontaria com os judeus, um assassino em série que esconde sua natureza cruel como um funcionário de um esquema nazista. E também como foi sagaz o alemão Oskar Schindler (do título do filme) em corromper todo esse sistema arriscando sua própria vida.


Tem uma hora que um trem cheio de mulheres é direcionado para a morte em Auschwitz. Ele vai lá, suborna o comandante e muda a rota do trem. E de várias outras formas na sua fábrica de panelas ele consegue mandar milhares de judeus para longe dali. Ficamos pensando: teve uma pessoa que conseguiu ludibriar a rigidez desse sistema mostrado no A Conferência.

Voltando ao filme em questão, a total falta de trilha sonora é proposta pelo diretor Matti Geschonneck (Das Ende einer Nacht, 2012) para que o espectador veja a reunião com a maior veracidade possível sem a influência dramática da música, só os ruídos reais de uma mesa de reunião corporativa e do buffet da hora do lanche. Geschonneck é um diretor alemão, membro da Academia Européia de Cinema, casado com a atriz e diretora também alemã Ina Weisse (Nunca deixe de Lembrar, 2019), seu primeiro filme foi em 1991 - Moebius -, depois fez muitos programas para TV alemã - como um seriado policial - e recebeu vários prêmios de melhor filme de TV Alemão, tendo sua direção elogiada pela crítica européia. Ele se juntou com os seus conhecidos roteiristas alemães: Magnus Vattrodt (Das Ende einer Nacht, 2012) Paul Mommertz (roteirista premiado da TV Alemã) e com um grupo de atores alemães e austríacos talentosos do mercado europeu, e com Lilli Fichtner, uma atriz competente da TV Alemã. Assim montaram a dramaturgia baseada em uma minuciosa pesquisa da Conferência de Wannsee.


A locação externa foi no lugar real que hoje é um museu na vila Berlin Wannsee - no sudoeste de Berlim - e o interior nos estúdios Berliner Union Film, que recriou toda a mobília e tudo mais, de acordo com os registros históricos, e está impecável assim como todo o figurino e a direção de fotografia magistral.


Recomendo ir ao cinema como se fosse ao teatro. Por se passar a maior parte do tempo em uma locação, comparo a performance do filme e a atuação dos atores a uma ótima peça de teatro. Meu desejo inconsciente é que A Conferência tivesse um final a la Quentin Tarantino (Pulp Fiction - Tempo de Violência, 1995), um incêndio, um terremoto, uma avalanche que matasse todos ali naquela sala, na ficção fica fácil, porém, na vida real não foi assim e A Conferência é a vida real.




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