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UMA TENTATIVA DE FUGIR AO ÓBVIO NO CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
por Ricardo Corsetti
O cinema brasileiro pós retomada a partir de 1994, salvo exceções, passou a - quase que exclusivamente - se resumir a dois tipos de filmes: de um lado, as comédias de apelo popularesco e formato de programa humorístico televisivo, produzidas em grande escala e, do outro lado, os chamados "favela movies" que, tanto para o bem quanto para o mal, passaram a ditar o formato e temática característicos de boa parte da produção cinematográfica brasileira, desde o lançamento do célebre Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002).
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Dito isso, é com agradável surpresa que vejo um novo filme que, felizmente, se diferencia de ambas as correntes dominantes no cinema brasileiro dos dias atuais. A Espera de Lis corresponde muito mais a um drama intimista, que me fez lembrar até o estilo do saudoso diretor e roteirista paulista Walter Hugo Khouri (Noite Vazia, 1964), o autêntico pai do "existencialismo" no cinema brasileiro.
Não sei até que ponto se trata de uma referência consciente no filme dirigido pelo jovem ator Bruno Torres (Somos Tão Jovens, 2013), estreante na direção de um longa-metragem, mas, de qualquer forma, é saboroso ver um filme contemporâneo que me remete à época em que o cinema brasileiro não estava tão preso e condicionado a "fórmulas infalíveis do sucesso" como ocorre atualmente.
O diretor constrói alguns belíssimos planos, reforçados e realçados pela linda fotografia. E realçando o belo trabalho de fotografia, direção de arte e direção geral, propriamente dita, de A Espera de Lis está o ótimo elenco, com destaque para a sempre bela e talentosíssima Rosanne Mulholland (A Concepção, 2006) vivendo Lara (irmã da protagonista) e também para o sempre ótimo Zécarlos Machado (Ação Entre Amigos, 1998) vivendo o pai das irmãs que protagonizam a trama.
Destaque ainda para a pequena, mas divertidíssima, participação de Murilo Grossi (Rodantes, 2019) logo na parte inicial do filme.
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O momento em que o personagem Miguel (vivido pelo próprio diretor) entra em cena em meio às belíssimas paisagens venezuelanas, constituem praticamente um outro "filme dentro do filme", dando um certo tom documental e até de road movie (filme de estrada), em contraponto ao caráter bem mais intimista oferecido pelo outro núcleo da trama, representado pelas irmãs Lis (Simone Iliescu) e Lara (Rosanne Mulholland). Ótima sacada em termos de equilíbrio entre diferentes camadas da história.
Em suma, foi mesmo muito bom ver este filme, no meu entender, tão dispare em relação ao mais do mesmo que costumamos encontrar nas produções nacionais contemporâneas. Que venham novas surpresas!
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