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A ÚLTIMA NOITE (SILENT NIGHT)



A FESTA NATALINA, A CRIANÇA E A MORTE.


por Vicente Vianna


Primeiro longa-metragem da diretora Camille Griffin, que também escreveu o roteiro e conta com o seu filho, o ator Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit, 2019) em um papel chave na trama. Ou seja,não tem desculpa se A Última Noite não ficou do jeito que ela queria.

Depois de fazer vários curtas, a diretora francesa - casada com o diretor de fotografia inglês Ben Davis (Eternos/Marvel–2021) - opta pelo suspense com um toque de humor ácido (típico da comédia inglesa) em um tema tabu que não cabe ser mencionado aqui.


Também se cercou de bom atores, como Keira Knightley (Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra, 2003), Mathew Goode (Match Point – Ponto Final, 2005) e o resto do elenco não compromete, inclusive os atores mirins - 4 crianças - estão muito bem.


A história conta a reunião de amigos e familiares para passar a ceia de Natal na mansão do casal protagonista: Nell (Keira Knightley) e Simon (Mathew Goode) com 3 filhos, sendo dois gêmeos de aproximadamente 8 anos - que são um alívio cômico -, as birras com a prima, os ciúmes com os pais, o falar palavrão e o irmão mais velho - de aproximadamente 9 anos -, questionador e rebelde.


Começa com as pessoas se arrumando para comemorar o Natal. As que vão sair pegam o carro e logo notamos que estamos no interior da Inglaterra, pelo volante do lado direito e a linda paisagem. Como em Festa de Família - filme sueco/dinamarquês de 1998 de Thomas Vinterberg (Druk – Mais uma rodada, 2020) as “tretas” dos amigos e parentes vão nos sendo apresentadas no caminho e na chegada para a festa. Nos 15 primeiros minutos de filme ouvimos muitas músicas alegres e de festividade natalina, como a clássica Feliz Navidad (José Feliciano, 1970), como um clipe de romance americano. Este recurso cansa, mas é um artifício da diretora para criar um clima agradável antes de entrar no verdadeiro tema do filme, que é o oposto, lá pelos 32 minutos, o que deixa, propositalmente, o espectador tenso e confuso.

A ideia é o contraste da alegria com a tensão. O tema pesado, contudo, travestido de ironia que confunde e faz refletir. As rixas dos convidados, os presentes, os casos extra conjugais. Enfim, tudo fica em segundo plano para vir à tona a decisão tomada. Os ricos, que são os personagens do filme, tem direito a regalias que os mais pobres não tem, mesmo nas piores situações. Ficamos presos à trama macabra para ver se todos os personagens vão cumprir o combinado ou não.

O filme leva a reflexões sobre a vida e morte, questionamentos sobre a veracidade das informações oficiais e os direitos básicos dos mais pobres. Se os ingleses são ingênuos de acreditar em tudo que ouve, aqui no Brasil temos excesso de malícia para duvidar de tudo, ainda mais com esses políticos corruptos, não importa o partido, que crescemos vendo suas caras de pau e mentiras, uma eleição após à outra.

A Última Noite cumpre o seu papel, nos entretêm e nos faz achar tudo um absurdo só. Como na cena da Coca-Cola (que não vou me estender para evitar spoiler). O filme é como a clássica frase de Papai Noel que antes dele falar já sabemos o que vai dizer, mas queremos ouvir mesmo assim: “Ho,Ho,Ho Feliz Natal!”




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