DELICIOSO SABOR DE SESSÃO DA TARDE
por Ricardo Corsetti
Desde meados dos anos 80, provavelmente nenhum outro gênero - ou subgênero - foi tão popular no cinema norte-americano como à comédia romântica.
Nesse sentido, o recente Amores Verdadeiros - inspirado em sucesso literário homônimo - parece tentar resgatar a tradição, mas adaptando, é claro, algumas características da clássica comédia romântica aos tempos atuais.
Se, por um lado, o filme de Andy Fickman (Brincando Com Fogo, 2019) respeita algumas regras básicas do subgênero como mocinha virtuosa, melhor amigo por ela secretamente apaixonado, coincidências quase inverossímeis, etc; por outro lado, se adapta à necessidade de subverter algumas convenções, como por exemplo, no momento em que a protagonista, após as dúvidas e reviravoltas típicas da trama, opta por ficar com o sujeito que não é, digamos assim, propriamente o sonho de consumo de toda típica garota norte-americana de classe média.
O elenco carismático, embora não necessariamente "estelar", colabora bastante no desenvolvimento da trama que, aí sim mantendo ao pé da letra, o padrão quase sempre inverossímil do subgênero, é cheia de fatos e coincidências somente possíveis num universo ficcional e, cá entre nós, com muita tolerância às "licenças poéticas".
Às vezes tenho a sensação de que, como diriam alguns amigos meus, os típicos white people problems (problemas típicos de gente branca e bem nascida), apresentados no filme são, pra não perder a piada, os problemas que eu gostaria de ter, aqui no mundo real.
Um gostoso sabor de Sessão da Tarde, levemente repaginada, sem dúvida, é o que se encontrará em Amores Verdadeiros. E isso é ótimo porque, aliás, de pesada, imprevisível e quase sempre insatisfatória, já nos basta a vida real, não é mesmo?
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