VIDA HERÓICA
por Ricardo Corsetti
Boa parte do material presente em Aznavour por Charles foi coletada (filmada) pelo próprio cantor com uma pequena câmera Bolex, icônica câmera de mão sessentista que ele ganhou de sua, não menos famosa, madrinha artística Edith Piaf (1915 - 1963). Por isso mesmo, Aznavour (1924 - 2018) é creditado como co-diretor do documentário ao lado de Marc di Domenico (Young Couples, 2013).
A força e relevância do filme se deve justamente ao caráter altamente intimista do material apresentado, mostrando o dia a dia do célebre ícone absoluto da "chanson française" (canção francesa) em meio a seus compromissos de trabalho, momentos de descontração em família, alegrias e frustrações relatadas pelo próprio artista, etc.
Obviamente, menções à carreira paralela de Charles como ator, sempre é claro colocando a música em primeiro lugar, estão presentes no filme, com destaque para aquele que é, provavelmente, seu mais icônico personagem no cinema: o inesquecível protagonista de Atirem no Pianista (François Truffaut, 1960).
Outro ponto de acerto no filme é a aparentemente rigorosa seleção de imagens a partir do riquíssimo e farto material registrado ao longo de anos pelo próprio Aznavour, empreendida por Marc di Domenico, pouco mais de um ano após o falecimento de seu grande ídolo.
Sim, porque mesmo levando em conta a extrema relevância histórica e qualidade em termos de conteúdo do referido material filmado, a opção por um filme de duração enxuta (83 minutos), sobretudo no formato documentário, é extremamente acertada no sentido de deixar o espectador com aquela saborosa sensação de "quero mais".
Talvez encontrando paralelo como intérprete e verdadeiro arquétipo da cultura francesa por meio da música, em Serge Gainsbourg (1928 - 1991) por exemplo; Aznavour cantou e celebrou a vida do homem francês médio, com toda a sua passionalidade comedida e ao mesmo tempo vibrante. E é isso que vemos, com extremo prazer, em Aznavour por Charles.
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