ARI ASTER APOSTANDO ALTO
por Ricardo Corsetti
Um dos principais nomes da tendência contemporânea do novo cinema de horror, intitulada com a ultra pretensiosa alcunha de "Pós Horror", Ari Aster, autor dos badalados Hereditário (2018) e Midsommar - O Mal Não Espera a Noite (2019), aposta em novos caminhos no recente Beau Tem Medo.
Em primeiro lugar, ao contrário do que ocorre em seus trabalhos anteriores, é praticamente impossível rotular ou enquadrar o novo filme de Aster em qualquer gênero ou subgênero cinematográfico específico.
Repleto de referências jamais esperadas num filme de um diretor já vinculado/associado ao cinema de horror, tais como: Federico Fellini (1929 - 1993), mais especificamente Fellini Oito e Meio (1964) e David Lynch (Veludo Azul, 1986), o mais recente trabalho do badalado diretor é conduzido por meio de uma narrativa absolutamente não-linear, flertando com os mais diversos gêneros cinematográficos, com elementos que vão desde o drama familiar, passando por pitadas de horror e suspense. E ainda contando com momentos de humor bizarro (sobretudo no que se refere ao complicado relacionamento entre o protagonista e sua insuportável mãe), tem mesmo tudo para elevar a obra do diretor norte-americano a um novo patamar.
Ao longo das três horas de duração de Beau Tem Medo, é óbvio que há certas situações e cenas absolutamente desnecessárias, mas, visto que definitivamente não estamos aqui falando de um filme convencional - com desenvolvimento de trama linear -, tais momentos não chegam a comprometer o bom resultado, principalmente pela beleza do filme em termos de fotografia e cenografia.
Obs: Dizem, inclusive, que Aster já possuía o roteiro pronto e desejava filmar Beau Tem Medo bem antes de seu segundo filme oficial Midsommar (2019), mas acabou mudando de ideia e, evidentemente, preferiu esperar até ter a "moral" e credibilidade necessária à apresentação e realização de um trabalho tão autoral como este, por intermédio de um grande estúdio e, claro, com a estrutura necessária.
Dentre as muitas referências a obras de grandes cineastas, tais como os já citados, é possível também identificar semelhanças estéticas e em termos de, digamos assim, clima soturno e de sexualidade latente, como o último filme do grande e saudoso Stanley Kubrick: De Olhos Bem Fechados (1999).
O consagrado ator Joaquim Phoenix (Coringa, 2019) dispensa maiores comentários quanto à qualidade de sua atuação como protagonista. Mas, justiça seja feita, todo o elenco de Beau Tem Medo apresenta ótimos desempenhos pois, apesar do tom de algumas atuações parecer afetado em demasia, fica evidente que isso é intencional, em se tratando de uma clara opção em termos de direção de atores. E por isso mesmo, tudo funciona perfeitamente nesse sentido.
É, meus caros ególatras, Christopher Nolan (A Origem, 2010) e Darren Aronofsky (A Baleia, 2023), parece que vocês finalmente encontraram um concorrente à altura, em termos de egocentrismo. Mas ok, Aster parece ter mesmo talento para segurar a onda.
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