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CASA GUCCI (House Of Gucci)




O NÃO TÃO DISCRETO CHARME DA BURGUESIA


por Ricardo Corsetti

Fico realmente feliz ao ver que, aparentemente, o grande Ridley Scott (Alien - O Oitavo Passageiro, 1979) recuperou a velha forma em seu mais recente trabalho Casa Gucci.

Apesar da longa duração (2 horas e 38 minutos), o filme não chega a cansar em nenhum momento, graças ao indiscutível talento narrativo de Mr. Scott e também a um senso de humor bem peculiar, quase pastelão (mas sem excessos) que percorre toda a trama.

A saga da lendária família italiana, criadora de um autêntico império no ramo da moda, revela porém, aquilo que, no fundo, qualquer pessoa razoavelmente inteligente e bem informada já sabe: não se constrói um império sem que os envolvidos em sua construção, em algum momento sujem as mãos, os pés e tudo o mais, no decorrer dessa escalada rumo ao "topo".


O elenco super talentoso, onde inclusive Lady Gaga está muito bem (ao contrário do que vimos em sua estreia como protagonista em Nasce Uma Estrela, 2018), sem sombra de dúvida colabora para o êxito do filme. Jared Leto (Réquiem Para Um Sonho, 2000) também merece destaque, pois está divertidíssimo (apesar de exagerar um pouco no tom cômico em alguns momentos) na pele do filho paspalho de Aldo Gucci (Al Pacino). E, claro, o sempre aristocrático Jeremy Irons (O Reverso da Fortuna, 1990) também está ótimo como o patriarca supremo desta autêntica dinastia toscana.



Talvez a atuação menos inspirada seja justamente a do protagonista Maurizio Gucci, vivido pelo "falso galã" Adam Driver (O Homem Que Matou Dom Quixote, 2019), mas é possível que o ator tenha optado por esse tom mais "morno" de atuação, justamente buscando retratar a timidez e a personalidade aparentemente contida de Maurizio, em oposição a alguns de seus espalhafatosos familiares como o tio Aldo Gucci, impagavelmente interpretado por Al Pacino (O Advogado do Diabo, 1997).

Em termos técnicos, sobretudo no que se refere à direção de arte (cenografia e figurinos), me parece até meio óbvio que Casa Gucci dispensa maiores comentários nesse sentido, sendo um autêntico deslumbre em termos estéticos, retratando muito bem, inclusive, a reconstituição de época de meados dos anos 70 e início dos 80, época em que se passa boa parte da trama.


Quando se pensa na extensa e já clássica obra cinematográfica de Ridley Scott, Casa Gucci pode até não ser necessariamente um de seus melhores trabalhos, mas, sem dúvida, já é bem superior a qualquer coisa que diretores mais jovens e badalados pela crítica e público contemporâneo, como um Christopher Nolan (Tenet, 2020) ou Wes Anderson (A Crônica Francesa, 2021) nos apresentaram nos últimos anos.




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