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DUNA (DUNE)



RECICLANDO UM PROJETO AMALDIÇOADO


por Ricardo Corsetti

Em primeiro lugar, ao ver o recente remake (se é que podemos mesmo assim considerá-lo) do clássico Duna (David Lynch, 1984) pelas mãos de Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, 2017), impossível não pensar no que poderia ter sido o projeto original idealizado pelo artista multimídia Alejandro Jodorowsky (A Montanha Sagrada, 1973), abortado pelos produtores naquela época (por volta 1982/83), jamais realizado, portanto, da forma como Jodorowsky o imaginou e que, no fim das contas, em 1984, acabou virando um filme meia-boca nas mãos de Lynch (Cidade dos Sonhos, 2001).



É difícil, aliás, comparar a versão repaginada de Villeneuve (diretor e co-roteirista) com a de Lynch, pois, desde a época dourada das locadoras de vídeo aqui no Brasil, eu nunca mais tive a oportunidade de rever a tal versão "lyncheana", o que me impede, portanto, de poder fazer uma comparação entre as duas versões de forma mais aprofundada. Me arrisco a dizer, porém, que provavelmente o que a nova versão deve ter perdido em termos de um maior aprofundamento temático, ganhou em termos de fluência narrativa, graças ao inegável talento como diretor do franco-canadense Villeneuve.


E olha que eu, sinceramente, nunca fui lá muito fã do estilo pseudo-autoral e cheio de "perfumarias" (preciosidades desnecessárias) do diretor. Não gosto, por exemplo, do que ele fez há poucos anos com outro clássico absoluto, em Blade Runner 2049, mas aqui seu estilo parece estar um pouco mais amadurecido e "enxuto", o que lhe permitiu realizar um trabalho em que, se por um lado transformou este clássico da literatura internacional num filme de entretenimento e candidato a blockbuster, por outro lado nos oferece um autêntico espetáculo em termos visuais, com planos belíssimos, espetacular fotografia e um ritmo narrativo competente a ponto de não cansar o espectador, apesar da extensa duração do filme: 2 horas e 35 minutos.

A bela atriz sueca Rebecca Ferguson (Caminhos da Memória, 2021) é puro charme a cada segundo em que aparece em cena como a mãe do protagonista. E o jovem Thimothée Chalamet - eternamente lembrado por Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino, 2017) - até que não decepciona como protagonista.

Em suma, um autêntico primor em termos técnicos, por mais longe que possa estar daquilo que um dia foi imaginado pelo chileno mais francês deste mundo Alejandro Jodorowsky, o Duna de Villeneuve, com certeza, irá agradar quem espera ver uma mega produção com toques autorais. E, detalhe: vem continuação da saga logo mais...




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