AMERICAN DREAM À LATINA
por Ricardo Corsetti
Neste simpático musical vemos a consagração e permanência na crença da realização do "American Dream" (sonho americano) nos corações e mentes, não só dos norte-americanos natos, mas também (e talvez principalmente) dos imigrantes latino-americanos e de outras diversas partes de mundo em busca de dias melhores.
No entanto, Em Um Bairro de Nova York, ao reforçar e estimular também o hoje em dia tão alardeado "mito do empreendedorismo" como forma de conduzir todo e qualquer indivíduo à ascensão material, só não é capaz de responder à mais óbvia entre as perguntas que surgem nesse momento: se todo mundo for empreendedor, quem será trabalhador?
Como obviamente a singeleza - e até ingenuidade - desta trama não está nem um pouco preocupada em responder a tão básica e essencial pergunta, nos atenhamos sobretudo às questões técnicas do filme:
A trama que gira em torno de imigrantes latino-americanos, oriundos de diversos países (Cuba, República Dominicana, Porto Rico, etc) de diferentes gerações que se estabelecem no hoje oficialmente bairro latino de Nova York Washington Heights em busca de um lugar ao Sol nos faz facilmente lembrar de um clássico absoluto do gênero musical,: Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) de Robert Wise.
Assim como o casal vivido por Natalie Wood (Juventude Transviada, 1956) e George Chakiris (The Warriors, 1979) no clássico musical multirracial sessentista, a simpática, digamos assim, nova versão deste icônico casal aqui vividos por Anthony Ramos (Usnavi) e Melissa Barrera (Vanessa) também vivem um amor conturbado e de difícil concretização, graças aqui não a diferenças raciais ou econômicas, como ocorre no clássico citado, mas sim justamente à necessidade de ambos correrem em busca de seus próprios sonhos.
Dirigido por Jon M. Chu (Truque de Mestre - O Segundo Ato, 2016), acerta em não apelar ao lugar comum dos velhos standards da canção norte-americana voltada aos musicais da Broadway, optando, em vez disso, por uma sonoridade jovem e contemporânea calcada, sobretudo, no Rap e no Pop de boa qualidade. Porém, a enorme quantidade de números musicais, de dança e, principalmente, o excesso a meu ver de diálogos cantados chega, em alguns momentos, a cansar quem não é necessariamente um aficcionado pelo gênero musical, como aliás é o meu caso.
Merece destaque a participação da jovem cantora e atriz estreante Leslie Grace, com sua bela voz aveludada que se destaca, em muito, em relação aos números musicais apresentados por todos os demais personagens.
Outro ponto alto de Um Bairro em Nova York é a presença da jovem e bela atriz e cantora mexicana Melissa Barrera, vivendo a co-protagonista Vanessa, tornando difícil prestar atenção a qualquer outra coisa quando ela está em cena, ofuscando inclusive seu simpático (mas insosso) parceiro de cena Usnavi, vivido por Anthony Ramos (Legado Explosivo, 2020).
Embora simpático e contando com um bom elenco em termos gerais, a falta de uma trama mais robusta que não se limite a reforçar chavões do tipo: "é só se esforçar que você consegue", ainda que se observe o fato de que musicais quase que inevitavelmente devam primar pelo otimismo, é muito pouco mesmo para se chamar a atenção de quem espera algo mais realista e, de fato, em compasso com o que é a realidade cotidiana da maior parte dos imigrantes, não só latinos, que se lançam em busca às benesses do famigerado "American Dream".
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