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Festival de Cinema Russo: SHEENA 667 (idem)




UM CASO DE AMOR PELA INTERNET


por Alvair Silveira Torres Junior


Sheena 667, de Grigoriy Dobrygin, que será exibido no 2º Festival de Cinema Russo em São Paulo, é um drama com lances de ironia, desenvolvido durante pouco mais de 90 minutos com a releitura da temática de crise e fim de um casamento. Embora o motivo ainda seja clássico, narrando o esgarçamento do relacionamento a partir de um caso extraconjugal, a novidade introduzida e explorada por Dobrygin é que a traição não se consuma de forma carnal, mas virtualmente, a partir de um site pornográfico, em que a performer de webcam Sheena 667 (Jordan Frye) seduz e conquista o coração de Vadim (Vladimir Svirskiy), marido da jovem Olya (Yuliya Peresild).

Tudo está calmo em Vyshny Volochyok. Moradores da pacata cidade, Vadim e Olya abrem o filme com uma cena de sexo ao som da música Le Vertigo, do compositor barroco Rondeau, com a sonoridade do Cravo combinando com as batidas da cama, como que anunciando a felicidade do casal. No entanto, a tranquilidade familiar parece ser boa demais para durar.


Vadim trabalha em sua oficina de automóveis vendendo peças automotivas que ele desmonta de carros acidentados em um trecho rodoviário conhecido na região como "estrada da morte". Olya trabalha em uma agência dos correios. E eles têm um sonho: melhorar o negócio da oficina comprando um guincho na Europa a fim de rebocar por conta própria os carros, sem depender de fornecedores locais.

Porém, como bons herdeiros da tradição literária russa, os roteiristas parecem seguir a famosa frase com a qual Tolstói abre seu famoso romance de Anna Karenina: “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”. Pois bem, a maneira peculiar pela qual o filme introduz a infelicidade do casal é através da Internet, fazendo uma atualização do drama universal da crise conjugal para o século XXI.


De forma fortuita, Vadim toma contato com um site de performers eróticas pela webcam e é seduzido pela virtualidade, pelo prazer virtual, sem a rotina e energia que o amor convencional vem exigir do ser. As cenas intensificam o drama, aguçando o escapismo familiar.



A estética das cenas lembra o estilo do cinema sueco de Roy Andersson (Você, os Vivos, 2009), com sua câmera estática, bem localizada, com planos medianos que retratam o mundo de Vadim, contrastando com a câmera nervosa, trêmula e de baixa definição das cenas fragmentadas representando o mundo em que Sheena vive e se apresenta ao novo amante, seduzindo-o com a visão do estrangeiro e do diferente.


Ao final volta a música barroca Le Vertigo, mas, se antes anunciava a união carnal, agora embala a separação dos sentimentos do casal, o distanciamento das almas, mesmo porque Sheena 667 ainda está distante. Eles irão se encontrar?


Um bom filme para os amantes das releituras dos motivos e temas do romance clássico.




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