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FRENTE A FRENTE (Nou-fo)




MONTANHA RUSSA DE PANCADARIA


por Antônio de Freitas


Frente a Frente nos mostra, logo nas primeiras cenas, que é um autêntico produto do cinema policial de Hong Kong que segue a tradição de nos apresentar filmes repletos de cenas de ação com muita pancadaria, em lutas muito bem coreografadas que fazem o deleite dos fãs há quase 50 anos. Em princípio, pode até parecer apenas mais um dos produtos sempre parecidos uns com os outros lançados aos borbotões pela fábrica chinesa de cinema, que consegue até competir com Hollywood. Mas, logo que o nome Benny Chan (Big Bullet, 1996) aparece na tela, podemos ter a certeza de que veremos uma avalanche de pancadaria assinada e com um protagonista bem interpretado.

Nesse segundo item temos a presença do carismático e muito competente Donnie Yen (Mulan, 2020), que interpreta Cheng Sung-Bong, um policial bem casado, certinho, que vai se meter em encrenca da grossa quando bate de frente com o sistema da polícia cada vez mais corrupta e burocrática.


Cheng é colocado de fora em uma missão importante onde vários colegas são mortos, vai ser dominado pelo sentimento de vingança e bater de frente com o ex-policial Yau Kong-Ngo, que acabou de ser libertado da prisão e procura vingança contra aqueles que o puseram ali. Este interpretado por um misto de ator, cantor e lutador de artes marciais, que é uma super celebridade na Ásia, Nicholas Tse (Air Strike, 2018). Dois personagens antagônicos movidos por um forte sentimento de vingança vão se colidir e quebrar o pau nos submundos de Hong Kong, em uma história repleta de ambiguidades cujos detalhes vão se revelando aos poucos, em pistas que vão sendo apresentadas no meio das mirabolantes perseguições e brigas.

Benny Chan, no seu último filme (morreu em 2020 sem ver este filme finalizado), realiza uma obra que pode ser acusada de ser um amontoado de clichês e lembrar muitos filmes policiais americanos da década de 90, onde se questionava muito as instituições e a ética, com personagens que atravessavam a linha que separa a justiça do crime vindos de lados opostos. Ele realmente se apoia nos clichês, mas o faz de forma magistral, com imagens espetaculares e personagens muito bem caracterizados, repletos de camadas. Inclusive o vilão que, como em boa parte de seus filmes, é humanizado e foge das caricaturas típicas do cinema de ação asiático.


Reforçando a equipe está o icônico coordenador e coreógrafo de lutas japonês Kengi Tanigaki (G.I. Joe Origens: Snake Eyes, 2021) que entrega verdadeiros balés em tiroteios e lutas magnificamente orquestradas.


O Cinema Chinês está conseguindo formar uma linha de produções de apelo popular com qualidade e inventividade. Não é à toa que já tem uma legião de fãs e consegue se impor no mercado, tornando-se uma alternativa ao repetitivo cinema americano. Este filme é um exemplo disso, entrega tudo que promete e deixa o espectador colado na poltrona em uma deliciosa montanha russa de pancadaria que, como já disse, parece mais um grotesco balé.


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