MONSIEUR AZNAVOUR (idem)
- Ricardo Corsetti
- 7 de ago.
- 2 min de leitura

TRAJETÓRIA DE UM PEQUENO GIGANTE
por Ricardo Corsetti
Excelente cinebiografia de um pequeno gigante Charles Aznavour (1924-2018), ótimo cantor e excelente compositor, além de um autêntico ícone da música/cultura francesa.
Aznavour é - aqui - brilhantemente interpretado pelo sempre ótimo Tahar Rahim (O Profeta, 2009). Sendo que o único senão do filme é mesmo a pesada maquiagem utilizada para "transformá-lo" em Aznavour, visto que, embora ótimo ator, Rahim, na verdade, não possui nenhuma semelhança física real com o cinebiografado.

No mais, porém, o filme é muito bem dirigido, tem ótima fluência e desenvolvimento narrativo, além de apresentar um primoroso trabalho de direção de arte (cenografia e figurinos) em termos de reconstituição de época.
Merece também destaque, a forma bastante direta e objetiva em que apresenta a relação profissional e de amizade entre Aznavour e outro ícone supremo da música popular francesa: Edith Piaf (1915-1963). Se por um lado Piaf foi, inegavelmente, muito importante na fase inicial da carreira de seu jovem pupilo, por outro lado, a verdade é que ela - seja por "ciúme" de seu inegável talento, ou até mesmo, medo de perder o amigo a longo prazo - também acaba, digamos assim, o podando bastante e, muitas vezes, tentou fazê-lo desacreditar de seu talento, dizendo-lhe, por exemplo, que "sua voz não era boa". Em resumo, outro grande mérito do filme, é nos mostrar que os deuses também são humanos em suas atitudes.

Outra passagem real, aliás, de "Monsieur Aznavour" que merece destaque é a impagável cena em que Aznavour e seu amigo simplesmente gastam todo o dinheiro que haviam ganho, até então, para comprar suas passagens aos EUA, indo atrás de Edith Piaf, crendo lá chegando, serem incluídos na turnê norte-americana da diva, em meados dos anos 50. Detalhe: eles simplesmente não faziam ideia de que era necessário o visto de autorização em seus passaportes para entrarem nos EUA. Resultado: são imediatamente presos e, durante uma espécie de entrevista com a agente de imigração, ao provarem serem cantores e conhecerem os principais standards do jazz norte-americano, conseguem assim, finalmente, o visto de autorização para lá permanecerem.
Pouco tempo depois Aznavour retorna à França. Após muita batalha, alcança a consagração como cantor e compositor popular. Mas, claro, não sem antes - na qualidade de filho de refugiados argelinos - descobrir na pele que a famigerada doce terra do "liberdade, igualdade e fraternidade", na prática, foi e sempre será, um autêntico poço de preconceito e intolerância.
Com distribuição da Imovision aqui no Brasil, Monsieur Aznavour, sem a menor dúvida, merece uma boa conferida.
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