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MORTE A PINOCHET (Matar a Pinochet)




UM FILME SINCERO


por Antônio de Freitas


Morte a Pinochet começa com as imagens reais de um pronunciamento do Presidente Augusto Pinochet (1915 - 2006) onde culpa as pessoas que estimularam uma manifestação como as culpadas pelo fim trágico que esta teve. Logo após podemos ver, em vídeos da época, a agitação nas ruas das cidades do Chile com protestos de populares e a posterior reação violenta da polícia. Em poucos minutos, o diretor novato Juan Ignacio Sabatini consegue passar para o espectador a violência que dominava o Chile durante a ditadura que vigorou de 1973 a 1990.

Após a apresentação eficiente de todo um universo dramático, conhecemos os protagonistas dessa história, os integrantes do grupo chamado Frente Patriótica Manuel Rodríguez, que se ocupa em tomar de assalto estação de rádios para fazerem propaganda contra o governo Pinochet. Usando uma montagem não linear somos apresentados a um painel onde podemos entender as motivações e a insatisfação desse grupo de jovens que sonham com a derrubada do governo e decidem que a violência dos militares deve ser combatida com uma resposta tão violenta quanto.


O uso de uma fotografia típica dos anos 80 consegue criar um eficiente clima de época que ajuda o diretor a traçar um perfil dos integrantes mais importantes do grupo com seus dramas individuais e o dilema de ter que abdicar da vida pessoal para mergulhar na clandestinidade. Exagerando, às vezes, nas cenas com diálogos explicativos, o filme nos mostra os diversos tipos que formam o pequeno exército de militantes revoltados que são oriundos de diversas camadas da sociedade. Alguns são pessoas de classe baixa e precisam lidar com as dificuldades de criar filhos e pagar as contas, além daqueles que fazem parte da classe alta e devem enfrentar a reação da família conservadora que os hostiliza por causa de suas escolhas políticas.


A personalidade e motivações do grupo é muito bem ilustrada e nos vemos diante de um bando de jovens muito diferentes entre si que tentam se organizar para cumprir um plano desesperado. Eles resolvem matar Pinochet. A narrativa se concentra em nos mostrar os diversos detalhes do planejamento, seus atritos para escolher quem deve comandar e o resultado de tudo isso nas suas vidas privadas.

O diretor/autor é muito eficiente em traçar um perfil psicológico dos integrantes do grupo valendo-se de ótimos atores, direção de arte de alta qualidade, assim como as caracterizações. Mas quando chega nos momentos de cenas de ação vemos uma direção um tanto perdida no planejamento. As cenas são confusas, curtas, rápidas e não conseguimos entender o que e como aconteceu. Juan Ignacio demonstra ser um ótimo diretor de atores, mas ainda precisa aprender a lidar com cenas que envolvem um grande grupo de pessoas e cheias de movimentação.


O resultado é um filme que merecia mais cuidado no planejamento e mais tempo em tela do ponto alto do roteiro, o atentando a Pinochet. O mesmo podemos dizer nas sequências onde vemos as consequências dessa ação com a resposta dos militares. Se esforçam e dão muito tempo na apresentação dos personagens e não dão a devida atenção ao clímax da história. Mas nada disso destrói as boas intenções desse filme que são de nos fazer compreender as motivações que levaram esses jovens a decidir partir para a violência. Antes de qualquer coisa, essa obra é de pessoas que queriam fazer um filme sincero sobre um momento triste, mas muito importante na história da América Latina.


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