O CINEMA ENQUANTO ESPELHO DE NOSSO FUTURO
por Ricardo Corsetti
Filmes sobre um futuro distópico (caracterizado pelo autoritarismo) definitivamente não são novidade na história do Cinema, possuindo uma longa tradição que no mínimo desde Metrópolis (Fritz Lang, 1927) a Blade Runner (Ridley Scott, 1982), só para citar alguns dos melhores acerca do assunto.
O recente Mundo em Caos se insere nessa tradição ao retratar um mundo localizado num futuro não muito distante, mas ao mesmo tempo não exatamente especificado, marcado pelo total desaparecimento (por causas não necessariamente naturais) das mulheres numa determinada comunidade onde a "única e verdadeira lei" é imposta por seu autoritário prefeito, vivido pelo ótimo Mads Mikkelsen (Druk - Mais uma Rodada, 2020).
Embora Doug Liman (Feito na América, 2017) seja um diretor experiente e de filmografia variada, que já transitou por praticamente todos os gêneros cinematográficos, sobretudo na parte introdutória da trama de Mundo em Caos me parece um tanto desengonçado ao tentar explicar como funciona o inicialmente estranho "ruído" que caracteriza praticamente todos os moradores da referida comunidade, com exceção do prefeito.
Mas no decorrer do filme começamos a entender a divertida, aliás, capacidade que os habitantes dessa comunidade, perdida no tempo e no espaço, tem de se comunicar uns com os outros (muitas vezes involuntariamente, inclusive) por meio da manifestação física de seus pensamentos. Ou seja, o tal "ruído".
A jovem dupla de protagonistas - Todd (Tom Holland) e, sobretudo, a bela Viola (Daisy Ridley) - é carismática e dá conta do recado. No entanto, é inegável que quem acaba mesmo roubando a cena ao longo do filme, embora não seja necessariamente seu protagonista, é mesmo o sombrio prefeito vivido pelo sempre ótimo ator dinamarquês Mads Mikkelsen, que aliás, surpreendentemente, é hoje um dos atores mais bem pagos em Hollywood.
Bela fábula futurista sobre um mundo cada vez mais próximo de nós, inclusive, graças à tendência ao autoritarismo imposta pela ascensão da nova extrema-direita em boa parte do mundo contemporâneo. Mundo em Caos, apesar de suas limitações em termos de ineditismo temático ou mesmo desenvolvimento de roteiro, cumpre bem seu papel de nos entreter e, ao mesmo tempo, alertar quanto ao iminente perigo representado por líderes que se auto impõe como portadores da verdade "absoluta e incontestável".
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